Considerei um dia que a qualificação de «escritor» era devidamente atribuída ao autor literário pelos seus leitores em resultado da quantidade e da qualidade dos aplausos que a sua obra merecia. Aplausos dos seus leitores, naturalmente, com a ponderação e o mérito, em quantidade e qualidade, de quem aplaudia. Tentava contribuir assim para moderar a pressa de um qualquer neófito se pretender reconhecido como «escritor» logo ao estrear-se nas letras.
A situação é agora um tanto diferente (e não falo dos «escritores de canções», que escrevem umas escassas letras e compõem as notas musicais no pentagrama), pelo que retomo o assunto. A cambalhota foi repentina como um passe de mágica - as editoras principais, mudando de mão, ficaram na posse de uns poucos mas grandes grupos financeiros - e o golpe deixou tudo, mais do que mudado, virado do avesso. «Escritor» é hoje, sem margem para dúvidas, o autor com bastante presença mediática.
Tem nome badalado, publica livros com estratégica regularidade, percorre o país de norte a sul apresentando as suas novidades literárias a um público sedento de autógrafos. E tem suficiente «força» no mercado, pelo que pode trabalhar com a editora convencionada, provavelmente em concorrência com outras. É, em suma, um escritor profissional e leva a sua profissão muito a sério (não o pensamento atribuído a Lao-Tsé: «O sábio é notado sem se exibir; renuncia a si mesmo e jamais será esquecido»).
Este o perfil assumido do autor que está no mercado para vender e que nessa medida agrada à sua editora porque a põe a render. Ambas as partes se entendem entendendo o livro (banalizado) como objeto de comércio e consumo intensivo, que invade estações de correio, supermercados, livrarias, feiras de saldos, tabacarias, depois de, feito estojo, servir para guardar os autógrafos.
Conforme venho apontando desde 1994 (vd. meus livros Inclinações Pontuais, 2000, e Letras Sob Protesto, 2004) e também aqui (consultar«etiquetas»), esta situação gera variados efeitos perversos. Concentra a maioria do público e as principais editoras em torno dos fazedores de best-sellers, incentiva a progressiva redução do seu número e variedade real e, para cúmulo, reduz a liberdade de escolha dos leitores. Acresce a isto a consequência mais gravosa e daninha: uma quantidade substancial de cultores da Literatura, dos artistas da palavra estética, fica condenada a uma total inexistência, uma espécie de (mortal?) invisibilidade.
Conforme venho apontando desde 1994 (vd. meus livros Inclinações Pontuais, 2000, e Letras Sob Protesto, 2004) e também aqui (consultar«etiquetas»), esta situação gera variados efeitos perversos. Concentra a maioria do público e as principais editoras em torno dos fazedores de best-sellers, incentiva a progressiva redução do seu número e variedade real e, para cúmulo, reduz a liberdade de escolha dos leitores. Acresce a isto a consequência mais gravosa e daninha: uma quantidade substancial de cultores da Literatura, dos artistas da palavra estética, fica condenada a uma total inexistência, uma espécie de (mortal?) invisibilidade.