segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O cronista suspende-se

Não é por canseira, esgotamento de forças. É por esgotamento das suas pessoais reservas de pachorra. Esvaíram-se, gastas até ao sabugo, nos últimos anos, por joguinhos cibernéticos de gato a brincar com o rato.
O rato estava nesta coluna a coçar os dentes nas letras que dispunha em linhas horizontais, que são a posição de equilíbrio, e o trapezista cibernético, sentado ao computador talvez do outro lado do oceano, num outro continente, divertia-se. Uma vez este blogue ficou bloqueado. Outra vez, e outra vez, o rato via-se sem internet ou o seu computador se engasgava… enquanto o nariz, cheirando, o advertia “aqui há gato”!
Mas onde já vai isso do “teu” computador? Compraste-o, pagaste-o, é teu, até o identificas com o teu nome, e depois descobres com indignação e espanto que o tens em casa ao serviço de gente desconhecida. A trabalhar ao serviço de interesses desconhecidos.
Estás a dormir tranquilamente, com tudo apagado e em silêncio? Alguém tem artes secretas de ligar o teu computador, usa a bateria e a placa de rede sem fios e acede aos teus dados. Rouba para abrir ou actualizar a tua ficha (à ordem do Grande Irmão).
Querem saber o que consomes, o que fazes e o que pensas, do que gostas, com quem convives, as viagens que fazes… Quererão mesmo saber quanto tens no banco? Querem saber tudo!
Ora se o rato, cronicando há já mais de nove anos, não esconde que é de esquerda num mundo que vira radicalmente para a direita (lembrando que a Democracia não é bem garantido para sempre). Exerceu somente o direito à livre expressão cidadã? Pois sim, mas despertou a atenção.
Conquistou visitantes-leitores em quantidades significativas nas três maiores potências mundiais. Entrou em cena o famoso algoritmo informático e, cronicando, o rato viu-se com a sua sombra ampliada, assustadora, estendida à frente dos pés. Era, assumidamente, espectador-actor participante, ou seja, um espectator, mas, caramba, os Estados Unidos, a Rússia e a China façam o favorzinho, entendam-se!
O rato pensa que fez a parte que lhe cabia. Recebeu aqui muitas dezenas de milhares de visitantes-leitores e chegará em breve ao seu 87º aniversário. Chega?
Talvez não, porque, ponhamos por exemplo o esmagamento e a eliminação, passo a passo, da Palestina e do seu povo é um caso dos mais espantosos e terríveis dos últimos setenta anos do mundo dito civilizado. Quer dizer, há questões que interpelam assolando a consciência da humanidade inteira. E assim o rato deixa escrita no ar com luz laser, em suspensão, a despedida:
- Até mais ver!

7 comentários:

Maria Paz disse...

Que pena! Gosto de passar por aqui para o ler. Espero que mude de ideias.

Arsenio Mota disse...

Caríssima amiga: Há quanto tempo sem termos contacto directo! Viva, Maria Paz,seja bem-aparecida! Agora quanto à anunciada suspensão, lamento, creio que é mesmo para valer. Continue, Maria Paz, Leiria e os seus amigos precisam de si! Beijinho afectuoso.

Anónimo disse...

Meu caríssimo Arsénio:
Esta crónica, pela habitual sintética lucidez, é a própria demonstração de que não podes deixar-nos.
Poderás reduzir a periodicidade quinzenal, por exemplo, ou, sem periodicidade, quando um tema te impelir a marcar "a brancura imaculada do papel"...
Um grande abraço, na expectativa de mais pérolas,
Rui

Arsenio Mota disse...

Amigo Rui: Tanta generosidade! Agradeço-a. Desculpa esta pequenina corrigenda: desde há muitos meses, as crónicas iam-se renovando às segundas-feiras, semanalmente, quase sempre às 9h30. Quanto ao resto, amigo, é que suponho que não haverá emenda possível. Acredita, fiquei farto de tanto expediente do Grande Irmão! Abraço cordial.

Anónimo disse...

Amigo Arsénio: O "a" que eu escrevi em "reduzir a periodicidade quinzenal", é preposição, ou seja, poderia ter escrito "reduzir para periodicidade quinzenal".
Mais um forte abraço,
Rui

António Gomes Marques disse...

Arsénio
Se o «Grande Irmão» está assim tão preocupado contigo, será mais uma razão para continuares com as tuas crónicas. Não lhe faças a vontade.
Abraço
António

Arsenio Mota disse...

Amigo Rui: Entendido! Concede-me, porém, que a tua expressão poderia suscitar outra leitura - aquela que eu fiz. Felizmente, da colisão ninguém saiu ferido! Abraço cordial, prezado Rui.

Amigo A. Gomes Marques: O «Grande Irmão» não se rala absolutamente nada comigo! E ainda menos que nada ele se ralará contigo, presumo eu! A questão que ponho é outra, assim: o poder real do imperialismo é hoje quase total; abraça quase o mundo inteiro principalmente porque controla a informação dos media, logo, as consciências dos povos. Com a mentira a invadir tudo, o que pode valer, e poder, então, as tuas e minhas palavras, as tuas e minhas opiniões, neste mundo?! Escrevo isto no dia em que o jornal «Público» se faz eco das revelações que ontem começaram a circular sobre a capacidade de espionagem desenvolvida pela CIA por todo o lado. És pessoa bem informada, deves ter lido. Será preciso dizer mais para nos entendermos? Enfim, meu caro, eu continuo com a minha, portanto fica tu com a tua porque, para terminar, só acrescentarei, sem ponta de ironia, mas repetindo-me, que já fiz a minha parte, agora é a tua vez! Avança, pá, e sê feliz cantando vitória incomodando o «Grande Irmão», uma metáfora! Teu velho, grato e dedicado Arsénio Mota.