No período terminal da sua vida, Vergílio Ferreira (1916-1996) continuou a escrever afanosamente. Dizia que precisava dessa atividade para seguir vivendo. Os seus leitores, porém, sentiam nas páginas que então escrevia uma perda do fulgor que notabilizara Aparição ou Estrela Polar e alguns críticos até sugeriam que o romancista retomava, repetindo, os seus temas essenciais como que em busca da obra definitiva, perfeita.
Ocorreu algo parecido também com Eugénio de Andrade (1923-2005), quando o poeta, já debilitado pela doença e a idade, se esforçava em publicar para atender às necessidades da fundação de que era patrono. Houve quem notasse o esforço, notando ao mesmo tempo alguma cedência do rigor do poeta à necessidade de gerar direitos de autor. Não são casos únicos os casos de Vergílio Ferreira e Eugénio, pois muitos outros se encontram na extensão do universo literário.
Esta questão ressurgiu no correr de uma conversa e ficou à tona, a pedir desenvolvimento, provando que não há questões velhas e arrumadas, pois todas precisam de a elas regressarmos de vez em quando para as debatermos como se novas fossem. A ideia central consiste em perceber se com efeito a arte não tem idade. Parece óbvio que não tem, rodeados como nos vemos por tantas expressões de arte «sem idade» porque se tornaram «clássicas», digamos, de sempre.
Todavia, isso não impede que a obra de arte surja com marcas do seu tempo, pois será a síntese desse mesmo tempo nela cristalizado que amiúde a tornam memorável. A arte, realmente, não tem idade, mas o seu criador, o artista, esse tem-na. E deve saber, em proveito próprio, quando parar.
Se, como ao ginasta habituado a exercitar músculos e articulações, não lhe convier a imobilização no interesse da própria saúde, pratique em casa, fora das atenções do mundo.
Todavia, isso não impede que a obra de arte surja com marcas do seu tempo, pois será a síntese desse mesmo tempo nela cristalizado que amiúde a tornam memorável. A arte, realmente, não tem idade, mas o seu criador, o artista, esse tem-na. E deve saber, em proveito próprio, quando parar.
Se, como ao ginasta habituado a exercitar músculos e articulações, não lhe convier a imobilização no interesse da própria saúde, pratique em casa, fora das atenções do mundo.