sábado, 11 de julho de 2015

Férias em Julho





Este ano, as férias do escriba ao serviço desta coluna arribam mais cedo. Ainda pouco entrado o Verão, o mês de Julho aparece a antecipar o de Agosto. E mais uma vez, o escriba vê ao longe as águas mansas de oceanos longínquos, onde as praias têm areais dourados quase sem rasto de pés humanos e o sol brilha num céu limpo e aberto. Mas… poderá existir ainda um lugar assim perdido e achado neste mundo revolto? A imagem anexa parece vir do Sri Lanka, antigo Ceilão, ilha que os tripulantes das caravelas portuguesas sentiam próxima pelo aroma das caneleiras que, adejando acima das ondas, lhes alvoroçava as narinas. Amigos, previnam-se, o escriba está em crer que se encontra por lá um lugar assim. Parte agora em sua busca, não sabe é quando - e como - volta.


segunda-feira, 6 de julho de 2015

O vento é invisível, mas as ervas, agitadas pelo vento rasteiro, evidenciam-no.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

O que diz o Outro

Quem está lá fora merece ser ouvido. É pessoa habilitada, grande amigo da verdade e da paz com justiça, defensor dos direitos humanos. Conheço-o há longos anos e peço licença para dizer que o senhor director de conferências desta instituição bem faria se lhe permitisse vir falar, expor aqui as suas ideias.
Quem está lá fora, senhor director, acumulou muita experiência. É pessoa das mais viajadas do mundo. Observou-o de longe, pela janela, mas isso não prejudicou a observação; pelo contrário, livrou o Outro de respirar as camadas da poluição ambiente em que vivemos, tantas campanhas publicitárias, propagandas maliciosas, maquinações confusas, golpes de teatro que nos atordoam, nos escandalizam ou nos revoltam.
O que ele tem a dizer não é atendido e entendido pelas multidões que correm nas ruas mesmo sem pressa e se endividam a consumir imensos bens supérfluos, todas as novidades das telecomunicações, os famosos gadgets, que põem as multidões a dormir e a sonhar como criancinhas ao colo do Big Brother. Se aqui o não ouvirem, onde mais será? A sua mensagem está a perder-se irremediavelmente, e devo notar-lhe, senhor director, porque é importante, o Outro segue a religião da humanidade, para ele sagrada e consagrada.
Mas continua lá fora, à espera. Lamentavelmente, digo eu. Porque ele viajou tanto que sabe ver e entender as trapaças do mundo com meridiana clareza.
Note, senhor presidente, que o Outro andou pelo mundo, vendo-o a girar e a arrastar consigo ventos e nuvens que a espaços o cobrem. Da sua janela, teve o benefício de contemplar três auroras por dia e pôde seguir a devastação que extinguia imensas indústrias produtoras de bens nos países desenvolvidos, onde fazia crescer o desemprego, baixar os salários e espalhar uma estagnação contagiosa para mobilizar legiões de escravos do outro lado do mundo. Obviamente, a globalização resultava da máxima concentração da riqueza, portanto de uma desigualdade despótica, expressão acabada do imperialismo.
Os verdadeiros donos do mundo, que efectivamente mandam e querem mandar, são agora os tentáculos poderosos do polvo gigantesco que o envolvem e espremem. São os comandantes da alta finança, que especulam e se aproveitam dos Estados endividados, dos programas de austeridade, das falências, sempre a lucrar mais depressa e melhor que nunca. Servidos por um sistema de organismos internacionais, bancos, partidos e políticas neoliberais, bocejam quando lhes falam da democracia, eleições, vontade expressa por maioria, brincadeiras de crianças que eles, adultos, desdenham.
Senhor presidente, quer saber quem é o Outro? Convide-o a entrar! Verá que o conhece tão bem quanto eu.