segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A crise exposta

Deixai aqui toda a esperança quantos ainda teimam em acreditar que foi benéfica para Portugal a sua adesão à União Europeia. Arruinou a agricultura, desbaratou as pescas e abriu a zona marítima nacional a outras frotas, limitando mais e mais a exploração do mar que é nosso. As «ajudas» que deu ao país serviram quase sempre para ampliar a corrupção em obras de luxo ou de fachada, não para fomentar a produção de bens, e criaram camadas de milhares de novos milionários.
Deixai aqui toda a esperança quantos ainda teimam em acreditar que a adesão à moeda única europeia contemplou o interesse do povo. Serviu o sistema bancário e, através dele, os interesses dos Estados da zona euro mais fortes e desenvolvidos lançados na exploração dos menos desenvolvidos. E agora se vê quanto isso serviu também para atrelar a União Europeia às ganâncias especulativas da alta finança internacional.
Deixai aqui toda a esperança quantos ainda teimam em acreditar que os partidos que tem sido governo desde há trinta anos agiram inocentemente ao endividar o Estado, isto é, pondo-o a jeito para desmantelar a pouco e pouco, com a rapidez conveniente, o Estado Social. Esses partidos aplicaram aqui e ali as políticas neoliberais aprendidas nos centros onde uma colossal acumulação da riqueza gerava o imperialismo e ensinava como este devia ser servido por governantes em geral. Só uma radical mudança de governantes, portanto dos partidos que se revezam no poder, poderá impor outro caminho por uma maioria de eleitores esclarecidos.
Deixai aqui toda a esperança quantos ainda teimem em acreditar que pode ser encontrada uma solução para a crise nacional mediante os processos eleitorais. Os partidos apropriaram-se do sistema democrático colocando-o deveras ao seu serviço. E a maioria da população (as classes médias), atormentada pela crise, talvez ganhe medo a mais crise até por fim rebentar.  
Deixai aqui toda a esperança quantos ainda teimem em crer que esta crise irá acabar, porque em breve ficará controlada a dívida soberana, e acabar a austeridade (iniciada há três anos; na Grécia há seis), o desemprego, a depressão económica e social, a emigração forçada da melhor força de trabalho. Desenganem-se: são as dívidas, melhor do que as armas, que vergam as nações. Os salários baixos e os empregos sem direitos vão generalizar-se pois o desemprego vai continuar alto e a maioria da população continuará sem dinheiro para consumir.
Deixai aqui toda a esperança quantos ainda teimem em acreditar que os bancos e todo o sistema bancário não lucram e prosperam com o esmagamento atual das classes médias. Esta governação que empobrece o povo trabalha para os engordar junto com as maiores empresas internacionais. A política sem máscara aproximou-se do que é descaradamente mafioso a coberto da manta protetora estendida por quantos esconjuram os perigos do «papão comunista».

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