quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Entramos em nova época


O mundo que nós e os nossos filhos conhecemos nos anos de ’60 e ’70 do século passado entrou em processo de rápida mudança. No início do século XXI acelerou a fundo numa deriva gigantesca que já nada parece conseguir travar. Estamos envolvidos numa transformação demolidora que nos empurra para dentro de um período histórico radicalmente diverso.
Os povos estão domesticados e a deixar-se cozer como as rãs na panela da conhecida fábula de Olivier Clerc, escritor suíço de expressão francesa. Se, incomodados, quiserem saltar fora para não sucumbir, já não têm forças. Despertam de uma situação aparentemente benigna ou mesmo agradável, nadando em círculo no seu ilusório conforto, para encarar uma sorte verdadeiramente terrível.
O despertar, porém, só é possível para minorias cultas e atentas mas sem peso eleitoral e portanto sem condições (objectivas, normais) de alterar as regras do jogo das forças políticas estabelecidas. Os sistemas - legislativo, eleitoral, económico-financeiro e outros - estão convenientemente blindados contra qualquer possível brecha. Jeff Sparrow, autor do livro Communism: A Love Story, australiano, adverte: “Tudo o que temíamos acerca do comunismo – que perderíamos as nossas casas e as nossas poupanças e nos obrigariam a trabalhar eternamente por escassos salários e sem ter voz no sistema – converteu-se em realidade com o capitalismo.”
Resta, portanto, focalizar a questão essencial e perceber as “fraudes legais, a oligarquia legal e o primado da lei” - escreve o jornalista José Vítor Malheiros (“Público”, 12-11-2014). “As leis tornaram-se demasiado complexas, a sua produção quase secreta e a sua alteração quase impossível”, destaca. Verifica-se, em suma, uma autêntica subversão do sistema supostamente democrático.
Uma apresentação, ou powerpoint, que circulou há dias na Net estabelecia um contraste chocante. Mostrava simplesmente uma porção de fotos que evocavam os costumes e ambientes daqueles anos ’60-’70 no Afeganistão. O contraste tornava-se fortemente dramático por contrapor à paz, tolerância e cultura (europeizada) de então o inferno sangrento da violência, do sectarismo fundamentalista e do atraso geral, impressionante retrocesso, que atinge agora a população mais pobre e desgraçada do mundo.
O caso afegão demonstra um facto de inesperada actualidade. Demonstra que é possível liquidar as conquistas da civilização alcançadas por todo um povo, afundando-o em guerras sectárias, ódios fanáticos, fundamentalismos irracionais. O que nos obriga a pensar num sério aviso: que aos povos domesticados resta uma saída – para a barbárie. [Na foto: cume da cordilheira dos Andes no Peru: montanha Ausangate.]

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