quinta-feira, 12 de março de 2015

Nova Economia é “bluff”

Assim se designou a teoria económica propagada e propagandeada na pátria afirmada do capitalismo, os Estados Unidos, quando o século XX se extinguia e Portugal aderia à moeda única europeia. Era tão “nova” e tão neoliberal que, contando uma história de fadas, ousava negar noções fundamentais da ciência económica estabelecida por uma galeria de mestres clássicos, de Adam Smith a John Maynard Kaynes. Mas então, e não por acaso, 99% da riqueza mundial já estava em poder de apenas 1% da população.
Daquela “escola” saiu a bandeira da globalização, que permitia aos potentados financeiros, donos das maiores empresas produtoras de bens, deslocalizarem-se para países, asiáticos e outros, onde o trabalho fosse, de tão baratinho, quase escravo. Os norte-americanos perderam imensos empregos; os governantes, que tal consentiam, deixaram de cobrar imensos impostos e a economia federal, que antes exportava, começou a gastar dinheiro a comprar (a importar) o que antes produzia. Acresce que as deslocalizações conduziram à saída de capitais alegadamente a caminho de investimento… em paraísos fiscais.
A liberdade de comércio, outra das bandeiras de combate da Nova Economia, quis-se ainda mais livre para abraçar o planeta inteiro. As grandes corporações querem ter já o direito (a liberdade, dizem) de entrar no mercado de qualquer país sem restrições. Isto é, sem serem abrangidas pelas leis e regulamentações gerais vigentes no país, podendo, portanto, mandar ali mais do que o próprio Estado (propõem até chamá-lo a tribunal)!
Evidentemente, a catequese da nova escola foi assumida por políticos e partidos que se alternavam no governo, zelosos e pressurosos no entoar beato da litania salvífica. Mas em breve ficou à vista a marca principal que a caracterizava: a austeridade. De facto, o que a Nova Economia trazia de novo era a imposição do empobrecimento generalizado, o esmagamento das classes médias, o desemprego galopante, aumentos brutais dos impostos, a perda dos serviços sociais, a paralisia económica nacional, a recessão.
Tão desastroso paradigma entrou de imediato em descrédito total. A paralisia do crescimento económico conduzia ao endividamento perpétuo dos Estados e à subordinação implacável das soberanias. Os potentados financeiros internacionais e os seus bancos deixavam de investir na produção de bens de consumo (actividade económica normal mas de rendimento fraco e lento) para negociar com os governos contratos, de parcerias e outros, bem mais apetitosos.
A vitória do Syriza e a eleição de Tsipras no Governo grego, neste quadro, correspondem a um despertar urgente, inevitável, dos povos decerto não apenas na Europa. As instituições da União Europeia, sem mais inclusão do contestado FMI, vão ter que demonstrar, na prática, se a Europa tem União ou se esta não passa de cavalo de Tróia do capitalismo internacional especulativo e predador.
 [Imagem: relógio decorado com conchas.]

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