segunda-feira, 25 de julho de 2016

Turquia, porta giratória da Ásia

us.jpgO mapa da Europa que eu, menino, encontrei nos livros e nas paredes das primeiras escolas abarcava a Turquia e o norte de África, portanto as duas margens do Mediterrâneo. O país modernizado por Kemal Ataturk aparecia ali numa fronteira imaginária entre a Ásia e o “velho continente”. Esta posição de país-charneira tem atribuído àquele país um papel de porta giratória entre os dois lados mas agora o presidente Erdogan parece disposto a virar as costas ao Ocidente acabando com o regime laico do Estado para o islamizar e a querer-se, em vez de presidente, sultão.

Assim, como porta de entrada e saída de europeus e asiáticos, a Turquia tem para mim uma reminiscência curiosa. Segundo José Pijoan, autor principal de uma história do mundo que traduzi (trabalho de três anos: 1973-75), a designação de Ásia teria começado por nomear uns prados em terras do continente avistados da ilha helénica mais próxima (onde por sinal vai chegando “à Europa” uma infinita corrente de refugiados das guerras); depois a designação alargou-se à medida que essas terras, do Levante e outras, chegaram ao conhecimento dos viajantes gregos. A designação da Ásia entrou na nossa língua pelo latim através do grego (Ασία, em acádio subir), mas são variadas as explicações da sua origem, de modo que nos atemos somente ao primeiro registo do topónimo: encontra-se em Heródoto, historiador grego que, por volta de 440 a.C., mencionava uma divisão do mundo em três partes mitológicas.
Todavia, sem dúvida nenhuma, a civilização asiática teve início há mais de 4.000 anos, muito antes de começar no mundo ocidental, com actividades económicas, manifestações culturais e desenvolvimento da ciência. Sabe-se igualmente que os povos da Ásia fundaram as cidades mais antigas, estabeleceram os primeiros sistemas de leis tal como as formas iniciais da agricultura e do comércio. E mais, os asiáticos inventaram a escrita, o papel, a pólvora, a bússola e os tipos móveis de imprensa e criaram as primeiras literaturas, sem esquecer que também foram asiáticos os fundadores das principais religiões do mundo: Buda, Confúcio, Cristo e Maomé.
Por tudo isto, convém lembrar que a Ásia - com o Levante, o Médio e o Extremo Oriente - é o maior dos cinco continentes, onde avultam nações enormes como a Rússia, a China ou a Índia entre outras nações de tamanho minúsculo. Os seus povos diferem igualmente quanto a árvores genealógicas, práticas, comportamentos, idiomas, crenças religiosas e modos de vida. Enfim, os europeus consagraram o Oriente com a velha frase de que é daquele lado que nos chega a luz – seja a da aurora ou do espírito – mas a frase tem-se perdido em corridas a apetitoso e abundante petróleo e maquinações que soltaram por lá a revolta e acordaram por cá uns monstros sanguinários.

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