O futebol traz inerente uma ideologia que é particularmente visível embora poucos a notem. É a ideologia do capitalismo. Lembra-nos que a popularidade do futebol acompanhou o advento da publicidade, do marketing, dos media.
Assim o sistema
capitalista e o futebol dançam tão bem o tango avançando abraçados pelo mundo que fazem seu. [Ilustração: pintura de Keith Malett.]
Tudo isso sinalizou a implantação crescente de uma
mentalidade capitalista e do sistema socioeconómico afim em acelerado
desenvolvimento após, digamos, 1950. No século do petróleo, entrámos no consumismo
da era imperialista.
As regras do
jogo no campo de futebol são, a nu, as do mercado clássico. Importa perceber,
pois, a matriz ideológica que define esse jogo: entusiasma quem alinha na
vontade de concorrer, isto é, de competir, partilhando essa vontade com os
jogadores da equipa que o espectador apoia na exibição; exalta o herói
individual ainda que o integre na equipa quando se torna necessário o esforço
conjunto ao modo da matilha que se organiza para a caçada.
No campo de
futebol triunfa, tal como no mercado, o protagonista mais forte, sendo mais
forte o que dispõe de maiores recursos financeiros para comprar no “mercado” internacional
os jogadores profissionais com palmarés recomendáveis. A competição alimenta o
espectáculo e o espectáculo faz-se com cada golo introduzido na baliza.
Derrotar o adversário concorrente, esmagá-lo e ganhar o jogo, ainda que à custa
de investir gigantescas fortunas na equipa, torna-se o objectivo supremo.
O jogo serve
para apurar um vencedor, o mais poderoso, e o aplaudir. Transforma-o num “escolhido”,
bafejado com um talento raro, valiosíssimo. Se a vitória lhe sorriu, não proveio
da sorte ou dos azares do jogo (porque a bola é redonda, o pontapé não aplica
uma ciência exacta e o vento sopra em variadas direcções); assinala-o com uma
estrela especial tal como os donos de grandes fortunas se sentem miraculados e
tão próximos de Deus que o instalam
em capela privativa na própria casa.
Mas a façanha do mais forte passa a valer
no plano simbólico - o
campeonato, a taça. O preço real
de cada golo enfiado na baliza de cada vitória atinge níveis tão loucos que
deixa os clubes arruinados. Depois de
transformar o jogo (que é e deve ser actividade lúdica) em espectáculo
consumível, os golos limitam-se a conceder vitória, fugaz porque logo tem que
ser continuada-confirmada por outra.
Estimulando a
competição pela competição, o jogo justifica a ambição individual e estabelece
a desigualdade e a injustiça, lembrando que o capitalismo não é de essência
democrática. Como no jogo do Monopólio, também no futebol se infiltra uma
ideologia subliminar que interioriza a respectiva ética. As suas regras podem
ser subvertidas por árbitros corruptíveis.
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