quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Indignação ateada

Grande parte do mundo desperta sob a violência do capitalismo selvagem. A população de mil cidades em mais de oitenta países (oito em Portugal) proclamaram 15 de outubro o dia da indignação. O povo saiu à rua e promete continuar para exigir democracia direta e o fim de uma distribuição injustíssima de riqueza que engorda 1% espremendo 99%.
É a indignação global, espontânea como  lenha seca posta na fogueira ateada no seio das classes médias. Reagem à agressão sem qualquer orientação apontada para um centro (a alta finança não tem fisionomia individualizável e estende-se por todo o lado, rápida como mortal pandemia), salvo a ocupação de Wall Street, simbólico emblema da concentração financeira. Ainda assim, o que lhe falta em orientação definida sobra-lhe na mais abrangente e pura afirmação cívica.
A indignação popular justifica-se amplamente. Governos, políticos e partidos que há trinta anos se revezam no poder perderam imensa credibilidade perante quem os elegeu e sofre com programas de austeridade, desemprego e extinção do Estado social. Da democracia resta um rótulo sem conteúdo, os programas da governança dão o máximo aos bancos sacando das classes médias (e agora ameaçando mesmo com um MEE, «o novo ditador europeu» para  eficaz rapina).
Está na hora de mudar resolutamente de atitudes, de romper com o passado e de rasgar caminhos novos. A situação reclama radicais mudanças: sistemas democrático, económico e financeiro, mentalidades, modos de consumo, civilização, ecologia. Mudanças estruturais que uma rede  espessa de interesses nefastos impede (com a informação manipulada da comunicação social à frente), rede apostada, sempre, em que a indignação pública, podendo ligar com revolta, jamais chegue a revolução.
Um trecho acabado de ler algures sintetiza: o poder hegemónico da alta finança, puramente especulativa, está desligado da economia real - mas parasita-a. Transforma tudo em capital para alimentar o capital e transformar o capital. O capitalismo atual já não pode coexistir com a vida humana.

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