segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O que é a política, hoje

Poucos eleitores das maiorias que confiam a governação nacional aos partidos que se revezam no poder têm uma compreensão suficiente do processo político. Menos ainda serão os que possuem uma consciência mínima da importância de questões como o debate e aprovação de um orçamento nacional para o futuro imediato do país. A percepção da coisa política, como causa de máxima relevância pública, anda, por este caminho, a empanar-se e a embrulhar-se perante as massas eleitorais.
Em suma, a governação nacional e toda a ação política tem vindo a revestir-se de complexidades insuperáveis para o nível cultural da inteligência comum. Os profissionais da política estabelecem áreas temáticas «protegidas» ou mesmo sonegadas e dispensam-se de prestar esclarecimentos para além da defesa constante dos seus interesses estratégicos. A informação posta a circular através dos media tende assim a ampliar mais e mais um alheamento generalizado da participação cidadã que se traduz em passividade e conformismo.
Nestas circunstâncias, a aquisição de um modesto conhecimento da coisa política (nacional e, naturalmente, também internacional) fica a dever-se ao empenho de cada indivíduo concreto, que vai longe beber em fontes diversas em busca de iluminação. De facto, é de longe que vêm elaboradas as principais políticas que os governos, levados pela onda mais alta que lhes apareça a jeito, se limitam a aplicar. A governação, realmente, faz como vê fazer «lá fora», justificando-se «cá dentro», no papel de relações públicas, com argumentos escassamente originais.
O governo da própria economia, alicerce do desenvolvimento nacional, segue na esteira de outros governos também pressurosos na adopção da última reforma. Os economistas do sistema abrem alas e entoam hinos: é o avanço da globalização, viva o neoliberalismo! A complexidade do ditar a política não está, pois, na governação - que segue comportamentos correntes bastante estereotipados,  e por isso governação tecnocrática, tratando mais de negócios barrigudos que de causas sociais.
Essa complexidade, bem real, esconde-se algures, em clubes de senhores poderosos e sem rosto, que ninguém elegeu mas que ditam os comportamentos da dita globalização. Terão sido tais senhores quem decidiu que os banqueiros saberiam governar melhor o sistema financeiro do que os governos? Terão sugerido, sorrindo à socapa, a criação do euro na União Europeia que desgraça agora tantos povos? [Imagem: autor, Pawel Kuczynski (n. 1976, Polónia.]

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