segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Não sabem nem perguntam

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O modelo único da informação jornalística apurou-se tanto que impera. Normalizado, espalha-se pelos jornais, canais de televisão, rádios, onde se atenuam e desaparecem as diferenciações caracterizadoras. Alterações do modelo corrente, estabelecido e consagrado pelas conveniências, tornaram-se desvios algo aventureiros não só prejudiciais, também perigosos.

A imposição crescente do modelo único da informação jornalística explicará decerto, por um lado, o motivo por que estão desempregados milhares de bons profissionais, e por outro, a indiferença crescente do público por essa monótona informação que, por exemplo, asfixia até à exaustão os jornais (impressos), obrigando-os a correrem para edições digitais. O público vai ficando privado de uma informação livre e plural, isto é, cada vez menos informado e mais desinformado por propagandas intencionais ao serviço de “causas” que envolvem estratégias inconfessáveis. Assim, a informação jornalística (pretensamente honesta, imparcial e objectiva) perde legitimidade enquanto função de relevante interesse social, enquanto, por outro lado, reforça nos leitores a massificação e o conformismo.
Eis como um jornal dito de referência sintoniza quase sem distorção as emissões de Washington e Nova Iorque. Escreve, em Editorial: “Haverá limites ao terror na Síria?” [Ali, os habitantes encontram-se] “entre duas formas de terror: o das forças de Assad, no poder, e o do autodenominado Estado Islâmico. Ambos atemorizam, intimam, matam, em nome dos respectivos fanatismos.” (“Público”, 18-01-2016)
A desmemória apaga o que ocorria na Síria há mais de cinco anos e agora parece contrariar o modelo único da informação. Já não lembra, sequer, que al-Assad, jovem, estudou medicina na Grã-Bretanha e que, no poder e com o seu país em paz, foi alvo de uma vasta campanha de acusações que começou por o declarar ditador, decerto porque o Pentágono e a Casa Branca não gostavam mais do homem, e depois, muito naturalmente, surgiram em Damasco manifestações populares, as manifes geraram alguma violência, a violência aumentou, aumentou ainda mais e rebentou a guerra civil (combatentes jihadistas no terreno de uma linha política anunciada, com armas fornecidas e pagas por quem?), guerra que destrói e já matou, ao que consta, mais de duzentas e cinquenta mil pessoas, enquanto não pára de empurrar a população síria para frágeis batéis através do Mediterrâneo. Refugiados na Europa que suportaram a guerra e Assad durante cinco longos anos de inferno!

É fácil, e cómodo, na informação corrente, igualar as forças do pretenso Estado Islâmico, que soltou os monstros, com as do governo sírio, que os aguenta; mas, vejamos, o que de relevante fica por explicar? Sem explicação ficam os que não sabem nem perguntam. Não sabendo nem perguntando, acabam por não querer saber – vão aos estádios, as novas catedrais, implorar o golo da vitória ou gritar em coro “Fora o árbitro!” “Grande ladrão!”

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