segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Um futuro sem utopia

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As riquezas dos povos e das nações acumulam-se mais e mais em cada vez menos mãos. Logo, estas linhas, à entrada, devem recordar ao leitor: “Um por cento da população mundial possui 99% da riqueza do planeta, mas apenas uma décima parte do um por cento é que nele manda realmente.” Consequência: os programas de austeridade impostos aos países mais débeis mostram às claras o que antes escondiam, a voragem crescente da alta finança mundial que leva à falência bancos e Estados, pondo a abarrotar os paraísos fiscais.

A alta finança carecia de uma nova via de investimento para escoar tão gigantesca concentração da riqueza (e disso terão falado os participantes do Fórum de Davos). Essa nova via já aparece: aponta para a financeirização da agricultura. Grandes multinacionais estão a comprar extensíssimos terrenos da melhor produtividade em diversos países “acessíveis” para os dedicarem à agricultura intensiva que seja a mais lucrativa.
Por este caminho, a chamada industrialização da agricultura promete avançar até se tornar global. Mas os investimentos da alta finança mundial na produção agrícola em tão larguíssima escala tornam-se inquietantes e mesmo ameaçadores para a relativa estabilidade que o sistema da alimentação da população do planeta tem tido para funcionar. Certamente, vamos todos entrar num período de convulsão.
Vai generalizar-se a produção de alimentos com utilização dos OGM, os populares transgénicos. Por outro lado, as culturas intensivas irão estender-se por áreas de enorme vastidão com solos propícios. Países e regiões serão votados à monocultura.
Isso terá reflexos graves no ambiente e na biodiversidade, num ambiente já comprometido com as mudanças climáticas. Mas a principal ameaça consistirá sem dúvida na concentração da produção mundial dos alimentos – a propriedade dos solos e dos meios produtivos – em poucas mãos… sem nome nem rosto. Será fácil, então impor quantidades, subidas de preços, condições.
Ora a chamada grande distribuição (a rede dos hipermercados), muito rendosa, está em poder do grande capital. Percebe-se o perigo que está à espreita: a alta finança internacional pode, se quiser, adquirir as redes da grande distribuição e ficar na posse do circuito completo da produção-comercialização. Mas nem precisa de tanto para mandar.
Em foco estarão os consumidores concentrados nas cidades. Neste sentido, calcula-se que em 2025 uns 65% da população mundial estejam a viver em zonas urbanas. Esta população ficará exposta ao novo perigo - a rendição pela fome.
É um futuro sem utopia. Quer dizer, sem localização específica. Ai de nós, pode querer engolir o planeta inteiro!

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