segunda-feira, 21 de março de 2016

Manuel Maria, poeta galego

m.maria.jpgAs relações culturais, ou antes, dos escritores e artistas das duas margens do rio Minho têm sido irregulares, esporádicas como a vontade de abraçar e de dançar. Mas, quando tal acontece, a festa vivida deixa sempre, dos lados de cá e de lá, apetite para mais. E, no ar, também uma interrogação (saudosista) sem resposta: porque há-de a festa ser assim tão escassa?

Um bom período de aproximação cultural luso-galega foi possível nos últimos anos ’60 e início dos ’70 do século XX, coincidindo de certo modo com o final do regime Salazar-Caetano. Envolveu escritores, pintores, poetas, cantores, académicos, jornalistas e múltiplas partilhas cruzadas, até que a eclosão do 25 de Abril concentrou o país sobre si próprio. Incluiu exposições documentais, recitais, palestras, congressos e publicação de livros e revistas.
Figura eminente nesse período em Portugal foi o meu amigo poeta Manuel Maria. Visitou Portugal diversas vezes, uma das quais, muito por ele recordada, com o pintor Pousa, e aqui lhe publiquei três livros: Sonhos na Gaiola, poemas para crianças (Lisboa, 1968); 99 Poemas (Porto, 1972), e Odes num tempo de Paz e Alegria (Porto, 1972). Depois ficámos “perdidos” um do outro até que vim a saber que Manuel Maria [F. Teixeiro] falecera já em 8-09-2004, na Corunha, com 75 anos.
O poeta nasceu na sua querida Terra Chã (Outeiro de Rei, 6-10-1929) e viveu em Monforte de Lemos, onde uma estátua o recorda em público, sentado à mesa e de livro na mão, e existe uma evocativa “Casa Manuel Maria”. Filho de camponeses, estudou para bacharel e foi solicitador. Participou nos anos ’60 na organização clandestina de partidos nacionalistas. Em 1985 abandonou a política e mudou-se para a Corunha, onde, hospitalizado, acabou por falecer. Realizou uma actividade literária intensa e imensa: desde 1950, publicou mais de meia centena de obras, sobretudo de poesia, mas também de teatro e antologias das suas próprias produções.
Recordo, por exemplo, Muiñeiro de Brétemas, a sua estreia, de 1950, e a sua última obra, Os Longes do Solpor, de 1993. A Wikipedia.pt lista pelo menos 25, desde Mar Maior, 1963. Trocámos abundante correspondência durante aquela meia dúzia de anos e visitámo-nos algumas vezes. Entretanto, fico preso a uma vasta rede de outras recordações, nomeadamente de Joaquim Santos Simões, um querido amigo de Guimarães, companheiro destas e de outras lides, José Maria Álvarez Blázquez e seu irmão (Edicións Castrelos, Vigo), J. L. Fontenla, Irmandades da Fala… mas como não recordar ainda os esforços, inúteis, que fiz pela publicação, em português normal, de parte significativa da obra literária de R. Alfonso Castelao?! [Imagem: Manuel Maria em retrato (pormenor) num cartaz.]

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi o convidado do 44º Jantar de Amizade UNICEPE, em 2002, 17 de maio, “Dia das Letras Galegas”. Noite inesquecível!
Apesar da sua imensa poesia, no Muiñeiro de Brétemas, diz: "Todos os versos do mundo não valem a a vida dum homem".
Forte abraço, caro Arsénio,
Rui