domingo, 10 de junho de 2012

Livros enchem avenida

A avenida central cá do burgo está outra vez cheia de livros. Filas de stands mostram capas e lombadas nas estantes e nos escaparates a quem passa, olha e pouco se detem a folhear um volume, pedir uma informação. A Feira do Livro é passeio público, local de encontro e convívio - se para mais não serve, pelo menos povoa o centro.
Os livreiros que ainda há ressentem-se da concorrência mas habituaram-se a resistir, estas feiras anuais dos editores entraram na tradição e, aparentemente, as lojas de saldos também já vão entrando na tradição. Realmente, publicam-se tantos livros novos, continua tão desmedida a produção editorial nacional, que poucos e estreitos são todos os canais possíveis de escoamento. Mas significará isso que teremos no país mais leitores?
Um estudo recente avalia as conclusões de outros anteriores para demonstrar que de facto aumentou a camada de leitores. Avisa, porém, que o crescimento conseguido apenas atenua o atraso de Portugal em relação com outros países europeus. Falando mais claro: ainda resta entre nós uma distância a vencer...
Entretanto, algo se foi perdendo. O livro, ao banalizar-se, tornou-se objecto de consumo massivo, comércio sôfrego de muito verbo de encher literário. Começamos a compreender Jean Dubuffet, que escreveu a denunciar uma «cultura asfixiante», e a aplaudir Woody Allen que com humor causticante nos convidou (lembram-se?) a acompanhá-lo «para acabar de vez com a cultura» (qual?).
É verdade que, segundo o brasileiro Mário Quintana, «os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem», ou pior, se lêem e não compreendem. Os livros são os nossos melhores e mais constantes amigos, e professores, e conselheiros. O padre António Vieira sintetiza: «O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.»
Na minha ideia, e eu gosto de a repetir, há livros sublimes entre outros intensamente inspiradores, assim como há livros realmente fracos. Mas quero crer que nenhum conseguirá ser tão fraco que nada tenha de aproveitável. E até os sublimes e altamente inspiradores carecem da companhia de outros livros para se tornarem mais claros porque uns se ajudam nos outros na Biblioteca infinita que Jorge Luís Borges concebia como o Universo...

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