Sobressaltam-se ambientalistas, ecologistas, paisagistas, técnicos de ordenamento do território, amigos da conservação da natureza em geral. O governo declara-se disposto a retirar todas as barreiras legais que impedem ou condicionam a expansão do eucalipto pelo território nacional. É caso para propor que os governantes substituam o emblema que exibem na lapela pelo ícone da árvore que tão bem lhes quadra.
Assim vão ser atiradas para o lixo todas as legislações nacionais produzidas desde o início do século XX que regulavam (pouco) o plantio daquela árvore invasora. Tem poucos amigos, mas poderosos (donos dos lucros das celuloses), e muitos inimigos sem poder. Todavia, sabem reconhecer na árvore um comportamento que até descrevem como «fascista»: come tudo em redor e não deixa nada.
Realmente, o eucalipto cresce depressa esgotando também depressa a humidade e o húmus contidos nos terrenos. Existem largas centenas de tipos diferentes, mas o que por aí abunda são os do crescimento mais rápido, logo os que mais depressa esgotam o potencial produtivo dos terrenos. Os amigos da natureza andam há imenso tempo a prevenir que tal árvore, sendo cheirosa, arruína os solos e expande no país maus cheiros e desertificação.
Ora o governo faz orelhas moucas para o que os tais muitos sem poder dizem e ouve os poucos com poder que lhes dizem o que querem ao ouvido. Tudo o que estes tem vindo a ganhar parece-lhes pouco. Os próprios incêndios na floresta (que este ano, piores que nunca, alastram sem travão), segundo pretendem certas insinuações, acabam por beneficiar de vários modos apenas as celuloses.
Porém, a consequência de maior gravidade que a medida decerto vai ter atinge a existência dos baldios. Herança histórica que remonta ao fim do feudalismo, os terrenos baldios são propriedade comum dos moradores de cada lugar como pastagens e reservatórios de lenhas. Nos anos '60, ocupavam 6% do território nacional; presentemente serão 420 mil ha.
Carlos Rebola, bloguista que lembro com saudade, fez há anos uma pesquisa e colocou em Google.docs um acervo importante de documentos sobre baldios, mas há outra informação disponível. O problema, agora, consiste na dúvida: irá o governo dar rédia solta às empresas madeireiras e deixá-las avançar (apropriarem-se?) por cima dos baldios? Dúvida justificada: a questão dos baldios está aberta desde há muito tempo e estes governantes ultra-neoliberais sentem-se dispostos a entregar tudo de mão beijada.
Portugal vai assim a caminho do futuro que certo economista americano veio apontar-lhe: apostar na produção florestal. Sem outro emprego, metade dos portugueses, de tanga e com rendimento de sobrevivência, cuidarão dos eucaliptais e a outra metade terá orgulho terceiromundista por exportar a pasta, matéria prima, e importar o papel fabricado. (Imagem: desenho de Pawel Kuczynski.)
Porém, a consequência de maior gravidade que a medida decerto vai ter atinge a existência dos baldios. Herança histórica que remonta ao fim do feudalismo, os terrenos baldios são propriedade comum dos moradores de cada lugar como pastagens e reservatórios de lenhas. Nos anos '60, ocupavam 6% do território nacional; presentemente serão 420 mil ha.
Carlos Rebola, bloguista que lembro com saudade, fez há anos uma pesquisa e colocou em Google.docs um acervo importante de documentos sobre baldios, mas há outra informação disponível. O problema, agora, consiste na dúvida: irá o governo dar rédia solta às empresas madeireiras e deixá-las avançar (apropriarem-se?) por cima dos baldios? Dúvida justificada: a questão dos baldios está aberta desde há muito tempo e estes governantes ultra-neoliberais sentem-se dispostos a entregar tudo de mão beijada.
Portugal vai assim a caminho do futuro que certo economista americano veio apontar-lhe: apostar na produção florestal. Sem outro emprego, metade dos portugueses, de tanga e com rendimento de sobrevivência, cuidarão dos eucaliptais e a outra metade terá orgulho terceiromundista por exportar a pasta, matéria prima, e importar o papel fabricado. (Imagem: desenho de Pawel Kuczynski.)
3 comentários:
Concordo com a manifestada preocupação com a política nacional que fomenta e autoriza a conversão de áreas extensas do território português para a cultura do eucalipto. Esta árvore, de origem australiana, gosta do
calor, consome toda a água que pode absorver e conserva-a na sua casca para consumo durante as épocas secas.
O comportamento biológico destas árvores é tal que, uma vez estabelecidas, acabam por dominar o ambiente e consequentemente
eliminar qualquer diversidade biológica na sua proximidade, o que é muitíssimo adverso a quase toda vida selvagem que usa
a floresta como habitat. É muito duvidoso que os benefícios económicos para a sociedade portuguesa superem
os danos ecológicos que os eucaliptos produzem.
A. Freitas
Só da minha memória, locais onde na minha aldeia, há 50 anos, escorria água mesmo no verão, chegam a estar secos agora, mesmo no inverno...
"Leis em favor dos reis se estabelecem/ e as em favor do povo só fenecem."
Grande abraço,
Rui
Agradeço estes comentários, mas, amigos meus, assim em boa concordância, deixem-me insistir no ponto para mim MAIOR -- a muito provável «invasão» dos baldios nacionais pela ocupação dos eucaliptos e sua apropriação oportunista pelas empresas madeireiras e indústrias da celulose (privadas). Trata-se, por ora, de um receio -- é verdade. Mas justifica-se, não acham?
Reparem, são 420 mil hectares! Sacados às pequenas povoações do interior. Onde irão depois buscar lenha? Pastorear? Caçar?
Por favor, digam-me que este assunto não vale nada nem tira o sono a ninguém!
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