segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ordem ou subversão?

Enchem a boca a falar da «nossa democracia» como se ela fosse carruagem pomposa, cheia de cromados e veludos reluzentes onde viajassem sentados e nós, os párvulos, de pé, em magotes felizes a vê-los passar. Talvez falem da democracia que fazem sua pela conquista que a soma dos nossos votos lhes proporciona. Mas, limpando a questão da retórica e do ranço político, o que vemos?
Vemos os partidos e os seus políticos que se revesam na governação. A «nossa democracia» é deles por apropriação legitimada pelas regras por eles e para eles estabelecidas. Formam o designado arco do poder, isto é, entram na dança das cadeiras de modo que a música lhes cai sempre bem no ouvido.
Andamos neste baile há muito tempo e o resultado é de arromba: há campainhas de alarme a soar no corpo nacional, a crise desatada é devastadora e ainda nem sabemos que migalha de soberania nos resta. Aprendemos ao menos a lição? Que lição?
Os votos dos eleitores dão a maioria garantida, mais coisinha menos coisinha conforme a maré, aos mesmos de sempre, e no essencial a política vai ficando cada vez pior. As eleições transformaram-se em meros formalismos necessários apenas para a legitimação do poder e a entrada em cena de caras novas, deixando tudo o mais a sobrar nesta «democracia». Os arredados do arco do poder, partidos e políticos, naturalmente da esquerda, não tem o apoio da maioria da população, que se encontra sempre bem prevenida, por todos os meios, do perigo comunista ou de qualquer esquerdismo.
Felizmente, ninguém aproveita a ocasião para vir insinuar que a maioria eleitoral não aprende a votar. O crescimento das abstenções é apontado com preocupação, mas é forçoso reconhecer, não é fácil pôr a delirar com os golos do futebol a população e esperar ter em maioria os cidadãos atentos aos negócios nacionais. Todavia, já houve defensores da ideia pela qual os votos da maioria, ditos do Portugal profundo, não tinham mérito igual ao dos votos dos outros eleitores...
Não vai ser fácil sair desta situação desordenada ao máximo pela crise. É verdade, a ordem opõe-se à subversão, e vice-versa. O que lembra que a subversão pode iniciar-se de todas as formas possíveis, em nome da democracia real, como desobediência civil.

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