sábado, 2 de março de 2013

Cheira a Primavera Árabe


Sopradas do Ocidente para o Oriente, as brisas da primavera árabe começaram a correr sobre os povos mouros e árabes. Tocaram na Tunísia há uns dois anos, mas já vinham de trás. A valer, ainda sem nome, iniciou-se com a invasão e guerra do Iraque, onde o cheiro do seu rico petróleo pôs à vista aquela acumulação perigosíssima de armas de destruição maciça afinal inexistentes.
A Primavera Árabe, com maiúsculas, ganhou todo o seu esplendor na Líbia, país dos mais prósperos e desenvolvidos da região graças aos seus recursos naturais. Não tardou, porém, a cobrir-se de invernia logo que Kaddafi, ditador pintado de horrores negros como o belzebu, teve fim justiceiro como Saddam Hussein, o outro negregado ditador caído nas mãos dos seus gloriosos vencedores.
Não precisamos hoje de esperar mais para avaliar, em rápida vista panorâmica, os frutos gerados pelas brisas primaveris. Sem Hussein, os iraquianos antes pacificados continuam a digladiar-se na fogueira ateada dos seus problemas intestinos: xiitas, sunitas e curdos matam-se e destroem-se em guerra civil com armas que nunca lhes faltam. Sem Kaddafi, os líbios retalham o país no entrechoque de três partidos opostos, qual deles o mais radical. 
A Tunísia continua também longe da paz. Desde que o regime malvado tombou, correntes religiosas e facções políticas contrapostas fazem reinar a violência, a destruição e a morte: o povo tunisino quer paz e dança no barulho instalado sem encontrar porta de saída. A sul, no antigo Sudão, Darfur, independente em 2011 (rico-pobre de energias fósseis), negros muçulmanos conflituam com árabes e não árabes, enquanto no Mali tropas francesas... 
E a Somália, e... Adiante. Mubarak, o faraó aliado de Israel, tremeu até cair mas as concentrações nas praças continuaram imparáveis porque polícias e militares apoiam o novo poder (teocrático, da sharia), não o povo egípcio. Entretanto, na Síria, uma guerra civil desencadeada por rebeldes armados destroem a República para destruir al-Assad (e dar o poder à jihad = guerra santa?) com pleno apoio da imprensa e de governos adeptos da verdade única. De repente um relâmpago ilumina a noite da memória e o quadro ganha sentido. 
O fundamentalismo islâmico, com ou sem rótulo taliban, espalha-se por países árabes, do magrebe e do continente africano. Saiu do colo das tropas americanas no Afeganistão, depois emigrou (massacres na Argélia, etc.) para onde, por coincidência, reservas de energias estratégicas pediam que era preciso dividir para reinar. O “perigo terrorista” tornou-se tão necessário como foi outrora o “perigo comunista”, mas o pior é haver tantos cidadãos incapazes de perceber o que se passa realmente no mundo e já barulha à sua porta.

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