segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A classe média existe!


Escuso de me repetir, é a realidade dos factos que agora, bem melhor do que eu, o demonstra. A classe média existe mesmo (aí temos em prova o resultado das eleições nos EUA), votou em massa e, de acordo com o sistema eleitoral vigente, levou de vencida Donald Trump até à Casa Branca. Mas os factos demonstram mais: o povo americano votou percebendo que a globalização o empobrece e que muito melhor será a nação começar a fechar-se em si própria.
Bastantes sectores da classe média europeia já sentiam na pele que a globalização trazia a austeridade e todos os sacrifícios impostos pelas políticas do neoliberalismo, a subordinação da União Europeia às estratégias da especulação financeira mundial. Talvez agora decidam virar também as costas às suas elites: os seus cosmopolitas e outros intelectuais. Provavelmente virão a tê-los na consideração liminar em que já têm os políticos e os partidos que se revezam nos governos: tudo escumalha mentirosa, não merecedora de confiança e por vezes corrupta.
Inquietem-se, portanto, os adversários do populismo. Venceu nos Estados Unidos, onde a vitória do candidato independente à Presidência ficou a dever-se ao imenso apoio que recebeu dos media… populistas. Ora o populismo está em franca expansão pela Europa e pelo mundo.
Na verdade, as populações estão fartas de partidos alternantes, políticas demagógicas, dificuldades de vida inaceitáveis. Podem ler poucos jornais, ouvir pouca rádio, mas vêem televisão. A informação que passa pelos canais noticiosos envolve-se quase sempre muito mais de propaganda que informação, abundando em espectáculo, mero espectáculo para entreter crianças de todas as idades.
Donald Trump soube interpretar o sentir profundo das massas populares, suas tradições conservadoras, hoje receosas das mudanças sempre para pior, ou seja, que o eleitorado, dividido, queria ouvir quem o atendesse. Arriscou-se a negar o sistema em bloco, foi ao ponto de atribuir aos próprios americanos o atentado dos aviões contra as torres gémeas nova-iorquinas, a propor boas relações com a Rússia, o Irão… Com ele, a política como espectáculo atingiu novo limite, o que deliciou com opíparos fartotes os media.
Os dados estavam lançados e os resultados do jogo deram no que deram: Trump é o presidente eleito. Prometia políticas ora com visos ora de esquerda, ora de direita, mas um cavalo de Tróia está postado à porta da cidade.
Ninguém vai acreditar que Trump caia em beliscar interesses de milionários espertos como ele. Seguirá, portanto, políticas de direita, as tais que alvoroçam multidões de manifestantes em cidades estado-unidenses acentuando a deriva ideológico-política que se dissemina pela Europa e em outros espaços. Temos a dúvida: até que ponto o designado underdog irá unir a sua palavra à acção?

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