segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Os afluentes da confluência


A deriva que subverte o nosso mundo, virando-o do avesso em aspectos decisivos, tem avançado com redobrado ímpeto apoiado na confluência de variados contributos parcelares. A conjugação aparentemente espontânea desses contributos na corrente principal da deriva deu-lhe força esmagadora, indiscutível como imposição de uma nova ordem das coisas. Notemos agora a confluência gerada por alguns desses contributos.
A voga da globalização (isenta de patriotismo e ecumenismo) aparece em destaque. Apoiada na livre circulação de capitais, em “paraísos fiscais” e offshores, aproveitou a empresas transnacionais, banqueiros e governos. Não debilitou apenas o vigor industrial, o crescimento e o emprego de economias desenvolvidas; também abriu o caminho a corrupções e situações de trabalho quase ou mesmo escravo (só crianças asiáticas?).
Porém, a globalização tem arautos entusiastas, infatigáveis desde há anos a festejar o que, à evidência, empobrece os povos nuns países e explora outros povos ainda mais pobres. Mas tanto entusiasmo derramado nos media – televisão, imprensa e rádio – não parece convencer a população que se debate com desemprego e baixos salários, embora inspire governos, origine défices orçamentais e endividamentos nacionais acatando o neoliberalismo de porta aberta para a austeridade programada. Mas põe a lavrar no povo a desconfiança e a revolta.
Os sistemas escolares público e privado, reformados, contribuíram igualmente para alavancar a deriva. Avançaram para além do “facilitismo”: concentraram-se sobretudo em estabelecer um ensino de tipo tecnológico-pragmatista em substituição do “velho” ensino humanista. E pior: as novas gerações formadas em tal modelo educativo são em grande parte provenientes de meios familiares desestruturados.
Estas e outras correntes da deriva espelharam-se dia após dia no conjunto dos media acríticos, acomodatícios em face das versões oficiais da Verdade Única, de modo que os órgãos de informação nela se envolveram activamente. De facto, o jornalismo trabalha junto das instâncias de poder seja ele político, governamental, económico, social, financeiro. Apenas não tem que se lhe submeter para sobreviver, mas a situação de crise atingida pela função noticiosa entrou em descalabro, contribuindo na inversa para a resposta “populista”.
O alinhamento dos media com a deriva geral caucionou sensivelmente o avanço das figuras e das políticas de direita. Também a liberdade de expressão e de Imprensa, tal como os profissionais do jornalismo, vêm sofrendo gravíssimos ataques (em especial na Turquia, Egipto e noutros países referidos pela organização Repórteres Sem Fronteiras num quadro internacional).

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