segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

E Galiza aqui tão perto


Questão recorrente, incontornável. A Galiza. Sempre perto, a morar do outro lado do rio Minho e, no entanto, sempre algo remota, como se aquele rio não fosse navegável, não tivesse ponte ou os portugueses não soubessem nadar…
Saudemos, portanto, com especial ênfase, o livro A Imagem de Portugal na Galiza, por Carlos Quiroga, edição Através de Nós, Santiago de Compostela, 2016. A editora tem ligação com a Associaçom Galega da Língua (AGAL), e o autor, licenciado em filologias Galego-Portuguesa e Hispânica, doutorou-se e é professor titular da Universidade de Santiago.
O livro resultou da “pretensão de pensar Portugal e contribuir para a reflexão crítica sobre a sua identidade, construída em boa parte na sua relação com os países de língua oficial portuguesa em cuja comunidade política, linguística e cultural se integra”, conforme indica Advertência. Com cerca de 120 pp, a obra consegue abarcar numa síntese e analisar o que o projecto inicial requeria, elaborando o conjunto dos dados disponíveis e sumariando-os desde a remota antiguidade, os séculos ditos “obscuros”, o Ressurgimento (séc. XIX), o séc. XX, a contemporaneidade e uma síntese final.
De facto, Carlos Quiroga perspectiva o nosso país historiando e documentando que a Galiza existe com anterioridade. Escreve (p.15): “Quando e como nasceu Portugal, como cresceu e com quem brincou e se bateu, explicam quem hoje é. E só a vizinha da mansarda de cima sabe. Porque esteve sempre lá. Portanto temos que recuar mais um bocado no tempo.” Os historiógrafos pátrios poderão, se quiserem sair à liça, discutir o ponto.
Quiroga evoca a remota Gallaecia, província romana, acompanhando com mapas a sua evolução no terreno durante os períodos suevo e visigodo, as relações dos dois países ibéricos; foca o plano político, literário e popular, os movimentos migratórios de ambos os povos, etc. Identicamente, destaca os intelectuais galegos que promoveram o Ressurgimento cultural, as adesões de portugueses como Teixeira de Pascoais ou M. Rodrigues Lapa, as dificuldades e controvérsias geradas em torno da adopção de uma norma linguística, o projecto de uma aproximação ou até integração no espaço lusófono (enquanto Guiné Equatorial mete o pé à porta, Galiza espera) ou de uma sonhada via política independentista.
Assim mesmo regista a escassez das trocas comerciais, os pecos frutos colhidos do Eixo Atlântico, de modo que, a concluir, Carlos Quiroga cita Moisés de Lemos Martins (p.106): “Amorosamente indecisa e duvidando, a identidade galaico-portuguesa sonha, todavia, com um parentesco histórico, cultural, étnico e linguístico, entre Galiza e Portugal.” O que será, para os galegos, como dizer: “Menos mal que nos queda Portugal!”

1 comentário:

António Gomes Marques disse...

Mais uma razão para a construção da ligação ferroviária entre Porto de Leixões e/ou Aeroporto Sá Carneiro e Vigo. Várias promessas nesse sentido têm sido feitas por vários governos portugueses, mas a concretização nunca mais acontece. Será que a razão para não se construir esta linha é o receio pelas vantagens de toda a ordem, a começar pelas económicas, que Portugal e Galiza viriam a ter?
Abraço
António