segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Em nome da Democracia

Está visto, a Democracia não é como a pintam quantos a erguem como bandeira para remar até à ilha dos seus amores. O sistema democrático pode aparecer em certos momentos, aqui e ali, com geometria variável, sem ofender a consigna básica forjada em Paris pelos revolucionários da Comuna. Não pode é perder ou deixar subverter a consigna suprema que a identifica como sistema assente no poder do povo, pelo povo e para o povo.
Os movimentos políticos de direita sempre quiseram colorir-se de algum matiz democrático, isto é, sempre quiseram afirmar-se “democráticos” por mero oportunismo demagógico. No fim de contas, todas as políticas e todos os partidos reivindicavam o rótulo nas suas propagandas e estratégias eleitorais ainda que beijassem a mão à minoria social e penalizasse duramente a maioria popular. Ser “democrático” acabou por soar tão vulgar como um lugar-comum, nada a levar a sério.
Porém, a irrupção dos alegados populismos na Europa e na América acordou as inteligências bem-pensantes dos cosmopolitas e outras figuras das elites ocidentais para o perigo nascente. Continuam a defender a globalização (ou seja, a liberdade de comércio para fruição das empresas transnacionais, bancos e fundos financeiros omnívoros; logo, não promove a interdependência positiva das nações) e a Comunidade Europeia mas confundem líderes ditos populistas de direita radical com líderes de esquerda autenticada. Confusão nada ingénua, muito lamentável.
Um sistema pratica a democracia na medida em que, realmente, outorga o poder efectivo à maioria dos cidadãos cuja vontade teve expressão política em liberdade. Acusar de “populismo” um líder que se dispôs a escutar os anseios e apelos populares e sai vitorioso, com maioria eleitoral, é propaganda antidemocrática, argumento ilegítimo e balofo. Assim se explicam as estranhezas que tornaram a surgir com a recente eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, não com base na contagem dos votos populares mas sim na soma de uns 280 votos dos Grandes Eleitores estaduais, apenas!
É, portanto, na expressão da vontade popular (quando erra aprende com o erro) e na consequente concretização prática das reformas, revolucionárias quando necessário, que poderemos encontrar o índice democrático presente e envolvido. É, enfim, o sistema (denegrido, suspeitoso) do povo, para o povo e pelo povo. Autêntico, desnudado, sem rótulos enganadores ou roupagens “democráticas”.
Vejamos. Uma democracia (é o que mais está a faltar; abunda, sim, a desigualdade – e para onde foi a fraternidade humanista?), bem desenvolvida, pode avançar até atingir o socialismo integral completo - essa magnífica utopia. Será a realização da temida democracia directa que, qual vento gélido, eriça o pêlo a tantos fervorosos “democratas” de aviário?

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