sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Este nosso povo

Se alguém quisesse convencer-me da realidade mesma deste conto, eu não acreditaria. Mas estou aqui e vejo. Vejo e nem acredito no que tenho no olhar.
O povo - rebanho manso e calado no interior do corpo vivo da nação - este povo que labuta enquanto a grandes golpes perde a democracia, se repara no governo entregue à dominação estrangeira, pouco se importa ou pouco se rala.
Ouve falar de guerra ao terrorismo e da necessidade de segurança, está em situação real cada vez mais insegura e, convencido a ter medo, não questiona o que ouve (que terrorismo, que segurança para quem).
Escuta as vozes claras da vanguarda que conseguem furar o bloqueio a prevenir as classes médias contra as políticas servis perante as estratégias dos «mercados» (financeiros)  e os governos igualmente postos ao serviço da ganância dos bancos e fica incrédulo, sem saber ainda que é isso a globalização... do empobrecimento.
Aguenta jornadas de trabalho mais prolongadas e ganhando menos, empregos precários, deslocalizações, despedimentos, abusos de poder patronal, trabalhar por objetivos, salários em atraso, cortes de direitos laborais, redução de períodos de descanso ou férias, e admite-o porque a isso obriga a «competitividade», os empresários têm de lhe resistir...
É sobrecarregado com mais impostos aplicados aos trabalhadores e aos pensionistas e, de ouvidos cheios de «crise», aceita apertar o cinto mais um furo e outro furo, e ainda outro, agravando a recessão.
Consome produtos indispensáveis ao seu dia a dia encarecidos por novos impostos e decide-se pela redução do consumo ou pela respetiva privação, baixando mais e mais o nível de vida até à pobreza estreme.
Despojado das proteções do Estado social no desemprego, na doença, na reforma, fica trilhado, sem voz, perante quem protesta e engrossa as multidões que  fazem greve ou enchem a praça e a avenida em manifestações eloquentes contra a austeridade.
E até admite, à força da repetição, que viveu a gastar mais do que podia, chegando  agora ao momento dos sacrifícios porque é preciso pagar as dívidas, e não toma a tragédia grega, que dura há cinco anos, como lição.
A Nova Ordem Mundial, desmascarada como desordem, mudou completamente de paradigma, será necessário um tempo para que este e outros povos reconheçam tão brutal mudança. Não se sabe se iremos esperar muito ou pouco tempo pelo que então acontecerá. Gostaria só de não estar aqui para ver a convulsão a estourar.

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