quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um FMI na zona euro

O Mecanismo Europeu de Estabilidade não promete ser tão inócuo quanto a designação sugere. Com esta aparente inocência, vem aí para alterar radicalmente as relações dos 17 países membros da moeda única em nome da estabilidade financeira. Será tão radical a mudança que o MEE  (ver video, link aqui à esquerda) foi declarado «novo ditador europeu» e não cessa de semear alarmes agora que está iminente.
O novo tratado transfere poderes e competências dos governos nacionais para Bruxelas de modo decisivo e definitivo. De início, o MEE criará um «fundo de socorro permanente» de 700 mil milhões a subscrever pelos países membros, algo como 2100 euros repartidos por cada cidadão. Mas já se prevê que o montante do fundo não irá durar muito tempo e então os senhores da União Europeia estarão habilitados a exigir pagamentos sempre e quando o entenderem aos 17, que terão de os realizar no prazo de sete dias!
É este o alcance esmagador do Artigo 136 que os parlamentos nacionais irão ratificar e que entregará definitivamente a soberania financeira da zona euro a Bruxelas. À frente da fila aparece a França e os restantes 16 terão de se decidir até 1 de julho próximo. Está em curso, portanto, a estruturação, no seio da zona euro, de um autêntico predomínio do capital financeiro centralizado, um derivado do FMI.
A Grécia já teve que admitir, na sua Constituição, uma emenda que entregou em mãos de tecnocratas estrangeiros o controlo das suas finanças, portanto do essencial da governação, se quis receber a primeira fatia da «ajuda» dos 130 mil milhões (que servirá para pagar tão só dívidas vencidas aos credores). Enfim, o caminho aberto em frente agora é este. Sem esquecer que a União Europeia inteira entra ou aprofunda uma recessão agravada pelos programas de austeridade.
Neste ponto se coloca em evidência a situação das classes médias europeias. Que futuro podem ter? Sabemos que dos muito pobres pouco ou nada podem sacar os Estados e que os muito ricos têm voz e vontade de mandar, pertencendo à maioria da população, as classes médias, o patriótico encargo de suportar os custos na medida em que possuam com que pagar...
O Mecanismo, reformulado, avança para as espremer até as deixar à beira da pauperização para consumar o geral empobrecimento. As classes médias precisam de receber urgentes e vigorosos esclarecimentos para que não venham a ser tomadas de assalto. O cerco em que se vêem ameaça engolir de golpe, com o regime democrático e as liberdades cívicas, a esplendorosa civilização que fizemos e nos fez.

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