segunda-feira, 2 de maio de 2016

A lâmpada de Edison

Edison dizia que o génio consiste numa simples migalha de Inspiração e que o Trabalho muito suado é que era a coisa quase inteira menos a migalha. Mais ou menos nestes termos falava o homem, cientista desprestigiado, de como realizava as suas invenções - e foram mais de duas mil, de acordo com a história. Estaria a referir-se à lâmpada eléctrica de incandescência que tanto o fez rabiar até que acertou no filamento de carbono?

v.volegov.jpgÉ verdade, o homem trabalhava deveras e apaixonava-se pelos seus projectos. Mas já houve quem julgasse que até trabalhou em demasia, apontando para a sua invenção concretizada em 21-10-1879: a velha ampola de vidro ainda se mantinha acesa, algures, na casa-museu que o evoca, irradiando luz e calor. Quer dizer, Thomas Alva Edison (1847-1931) trabalhou tão bem que, talvez já a pensar no seu interesse como empresário, escolheu, entre os diversos filamentos experimentais, aquele que tivesse uma duração conveniente.

Nesse caso, parece que Edison foi autor de uma outra invenção (recorrendo não só à pilhagem de inventos alheios). Descobriu a obsolescência programada dos bens de consumo que por todos os lados hoje nos assalta e devora. Pois não se dizia que, ao fim de uma cambada de anos, a lâmpada daquela festejada data ainda continuava a funcionar?

A iluminação com tubos de néon, posterior, poupava electricidade e produzia menos calor, mas seguia a regra: ao cabo de uma cifra de horas de utilização acabava a relampaguear (e nós em dúvida: como descartar sem perigo os tubos fundidos no ambiente). Agora temos a grande novidade, a luz dos diodos. São de custo elevado mas podem convir porque garantem uma também elevada poupança de energia.
Em que ficamos? Na mesma. Anuncia-se uma próxima novidade nesta matéria absolutamente revolucionária: vão aparecer no mercado novas lâmpadas e alguns outros aparelhos domésticos concebidos por uma nova tecnologia tão avançada e perfeita que lançará definitivamente no lixo tudo o que temos vindo a usar e conhecer.
A nova tecnologia chega, portanto, envolvida nas habituais epifanias que, com esperança inesgotável, acolhemos as novidades: consome de electricidade menos que a lâmpada de Edison, menos que os tubos de néon e até menos que os recém-chegados diodos. E agrega ainda outras conveniências importantes, dizem sem esclarecer os anunciantes. Apenas não cuidam de nos prevenir que teremos de continuar a ir à loja e ao mercado para abastecer o sistema que do capitalismo tem nome e proveito. [Imagem: motivo central de pintura por Vladimir Volegov.]

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