segunda-feira, 23 de maio de 2016

O mundo dos bárbaros


bárbaros.jpgUm vento de insânia, tenebroso e gélido, atravessa os continentes e parece atordoar os cérebros, eclipsar os direitos humanos, transformar os princípios éticos ou a própria decência civil em toleima anacrónica. Trump, candidato estado-unidense à presidência, repete frases bombásticas de estarrecer, no Brasil o golpe de Estado de Temer é escândalo posto em cima de um monte de escândalos (veja-se o retrato dos ministros do “governo de gestão” que até já quer mudar a Constituição), Uribe, presidente da Colômbia, apelou em Miami, em cimeira “Concórdia”, por uma intervenção militar de “forças armadas democráticas” na Venezuela em apoio da oposição e, sem dúvida, para enterrar a Revolução Bolivariana, Cristina Kirchner, após doze anos a morar na Casa Rosa argentina, e seus filhos enfrentam seis acusações de corrupção. Na (des)União Europeia há cada vez mais países em derivas políticas radicais quase incríveis, como na Áustria, Dinamarca e França austeritária com novas leis laborais impostas por decreto.

Na Indonésia, o presidente eleito promete eliminar criminosos matando-os, prender manifestantes e teria muito gosto se tivesse violado também uma tal freira bonita. Duterte, novo presidente das Filipinas, quer mudar a Constituição e aplicar “linha dura” na governação (em campanha já ameaçava matar “traficantes”) e desafia a China dispondo-se a reivindicar umas ilhas em disputa. Tudo isto, apanhado num simples relance, deixa uma pessoa estupefacta, de boca aberta: estará o Mundo entregue aos bárbaros?
Olhando um pouco ao lado e girando o globo, está a Rússia rodeada mais e mais por forças e aliados dos Estados Unidos. Na Ucrânia, antigo “celeiro da Europa”, Yanukovych ganhou a presidência em 2010 numas eleições perfeitamente democráticas (mas o que vale hoje a democracia?), o parlamento destituiu-o e ele exilou-se em 2013 para ser substituído por Poroshenko, pró União Europeia e NATO. No Egipto, Morsi, da Irmandade Muçulmana, venceu as primeiras eleições democráticas do país mas foi deposto em 2013 por golpe de Estado do general Al-Sissi que, com nova Constituição, declarou a Irmandade “terrorista” e legalizou a pena de morte, pelo que o tribunal condenou 529 pessoas num único dia, aumentou a repressão (mortos 595 manifestantes pró-Morsi em 14-08-2013, outros 152 condenados, jornalistas perseguidos, etc.), mas atenção, Al-Sissi não é ditador! (soube entregar duas ilhas à Arábia Saudita em troca de grande ajuda financeira para as forças militares egípcias).
E na Turquia? O presidencialista Erdogan sabe jogar em tabuleiros diferentes sempre a ganhar, acusam-no de corrupção mas o homem defende-se, persegue opositores, prende e leva julgamento jornalistas mesmo estrangeiros para os quais o partido curdo não é “terrorista”, e não lhe falem de direitos humanos, de refugiados ou do acordo que fez com a Alemanha de Merkel. É este o mundo dos bárbaros: inimigos da civilização, da dignidade humana, da justiça.

Sem comentários: