segunda-feira, 16 de maio de 2016

Considerando a Vida...


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A notícia correu há dias e… qual a novidade? Nenhuma. Apenas a de que a sonda Kepler, disparada há anos para fora do nosso sistema planetário - ou seja, para lá do cantinho onde o planeta azul gira a circundar o Sol, o nosso solzinho que tanto nos atrai e anda a esconder-se atrás de nuvens invernosas desta Primavera sombria – que a sonda, dizia, funcionava e que enviara imagens de muitos outros sóis também com sistemas planetários e planetas provavelmente idênticos à mãe-Terra…
Ora pois, novidade nenhuma. Qualquer cabeça munida de cultura geral suficiente não ignora com certeza que abundam no cosmos milhões e milhões de estrelas, sóis e mais sóis a brilhar dentro dos seus sistemas planetários. De resto, basta abrir bem os olhos e considerar o céu cósmico onde avulta a esplendorosa “estrada de Santiago”, designação de antigos caminheiros em peregrinação a Santiago de Compostela que corresponde, em astronomia, à galáxia inteira onde o nosso sol ocupa um cantinho…
Considerar o céu, disse, praticando conscientemente um pleonasmo, porque con-siderar é, etimologicamente, estar com o sidério, espaço sideral tão vasto e maravilhoso que por vezes até podemos ficar em contemplação, siderados (perplexos, atónitos, atordoados, fulminados). Realmente, a sonda Kepler apenas atingiu os arredores do nosso sistema planetário e recolheu imagens do que sabemos que por lá existe. Na galáxia a que pertencemos existem milhões e milhões de incontáveis sóis e planetas, buracos negros poderosos que tudo engolem, e, mais longe, outras galáxias, algumas em espectacular colisão e, sobretudo, espaço, imenso espaço, infinito espaço em expansão.
A experiência viva que um mínimo de conhecimento astronómico nos pode dar conduz inevitavelmente à percepção de que não será colada à dimensão terrena que uma consciência humana chegará a compreender algo do fenómeno Vida. Carl Sagan gostava de dizer que somos feitos da matéria das estrelas. É uma boa forma de dizer o mesmo.
Precisamos de dilatar a imaginação pela imensidão celeste (mexer as pernas da imaginação é exercício dos mais salutares!): por exemplo, atravessar a nossa galáxia no seu ponto mais estreito, demoraria, em anos-luz, tão poucos que pudessem caber na escala humana mais louca? Iremos deparar-nos com a questão essencial: quem somos, o que fazemos aqui. A resposta está na abóbada cósmica, povoada por matéria nas variadas formas que pode assumir; matéria, leite materno, afinal indestrutível, só transformável; matéria que é, na sua outra dimensão, espaço-tempo.
Nota final. Escrevi estas linhas evocando o saudoso amigo arqº Fernando Lanhas, pintor de múltiplas ocupações e preocupações, imaginando-o em conversa comigo e sentindo a falta que me faz.

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