segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Jornalista: pedra angular da informação


Cada cidadão tem, ou deveria ter, uma noção esclarecida da primeiríssima relevância que a informação cumpre no plano social quando lê as notícias do jornal ou liga rádio e televisor. Com essa consciência se afirma a cidadania para, quando necessário, exigir aos meios informativos um trabalho livre, isento e plural. Se estes meios sofrem adulterações e desvios de conduta reconhecidos em geral sem que ecoem reacções críticas a exigir os correctivos indispensáveis, isso indicará que a consciência cidadã se deixou adormecer.
Efectivamente, é possível detectar uma afinidade íntima entre o vigor da cidadania num país e a qualidade jornalística, ética e estética, praticada no terreno pelos seus meios informativos. Ambas se espelham. Andam a par, variando consoante a tensão do pulsar democrático das suas outras instituições.
Neste quadro de quebra de participação cívica e de reduzida afirmação democrática quando a Democracia se esvai é que os jornalistas chegaram à penosa situação em que hoje se encontram. A precarização dos vínculos laborais acompanhou a degradação geral das suas condições de trabalho, salariais e outras. Facto incontroverso é, todavia, que são mesmo os jornalistas a pedra angular do edificar diário da informação.
Ora os modelos da informação em uso não primam pelo rigor e, desde logo, negligenciando a regra da neutralidade perante os assuntos. A liberdade, a isenção e o pluralismo, princípios consagrados pelo Jornalismo, acomodaram-se aos factos correntes de narrativa acrítica em circulação que acatam porque está assente e é cómoda, dançando com bastante jogo de cintura ao ritmo da cantiga “somos todos americanos”. Um jornalista de esquerda que não se cale e ouse manifestar opinião livre duvidando dos factos assentes, arrisca-se a forte penalização.
A conformidade, pelo menos aparente, tal como o medo, espalhou-se pelas redacções, não a sentirão somente uns raros jornalistas de prestígio firmado (e vigiados). Por algum motivo se tem ouvido desabafos de alguns profissionais: dizem que trabalhar não é melhor agora do que foi no tempo da ditadura e da censura prévia… Remédio para isto talvez possa pedir o impossível: a mudança da estrutura das empresas informativas, tornando-as públicas.
Eis como bem se justifica o quarto Congresso em organização, sob o lema
Afirmar o Jornalismo, pela Casa da Imprensa, o Clube e o Sindicato dos Jornalistas quase vinte anos depois do terceiro. Vai decorrer em Lisboa (cinema São Jorge, dias 12-15 de Janeiro), presidido por Maria Flor Pedroso. Desta vez a idade afasta-me da participação, mas, ao menos, aqui fica esta nota.

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