sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O fim da picada

As nações pertencentes ao conjunto do designado mundo ocidental enfrentam hoje desafios e dificuldades verdadeiramente insuperáveis. Porém, os seus governos entretêm-se no dia a dia a iludir os problemas ou a adiar as soluções convenientes, correndo para diante sem ver o caminho. Avançam contentes uns com os outros e assim nos fazem chegar, através do mato, ao fim da picada.
Entretanto, debatendo-se na crise das crises, os povos permanecem alheados, na persuasão tonta de que lhes basta ir votar de vez em quando para serem bons cidadãos, pois a comunicação social posta «em boas mãos», de acordo com os governos, não iria estragar o ambiente com uns sonoros berros. Mas como pode permanecer mudo e quedo quem assiste ao brutal desabar das coisas? O mundo ocidental parece chegado a um ponto limite que lhe impõe cortes e rupturas terminantes com  políticas, governações, mentalidades e comportamentos sociais agora insuportáveis.
Estamos na nova ordem do mundo («ordem criminosa», acusam Eduardo Galeano e Jean Ziegler), extinguem-se as classes médias, baixa o nível de vida, desaparece a democracia, manda mais quem não foi eleito nem tem nome retumbante. Os Estados afundam-se em paralisias económicas, recessões e programas de austeridade, défices crónicos, empréstimos impagáveis. A governação perde transparência, desviada para além de cortinas espessas, deixando à vista muita política degradada como espetáculo.
A própria governança deixou-se contaminar por algo mafioso, suspeito ou clandestino, à margem das leis que a governança soube produzir. A União Europeia, com a sua moeda, vacila e ameaça ruir, a extração do petróleo e do gás natural declina, encarece a energia,  os recursos planetários não renováveis mostram quão finitos são, tudo parece chegar a um extremo que é o momento das rupturas decisivas. As economias abrandam e estagnam, extingue-se a ilusão do crescimento contínuo (os Estados regressam ao nacionalismo e fecham-se, procurando a autossuficiência tal como as regiões e as famílias).
Mas de pé está a economia de guerra e o crescimento da especulação financeira, a repressão e os negócios da vigilância extensiva (a espionagem maciça) exercida por empresas de «segurança». Fica claro também que a dita «globalização» foi promovida por fundações como a Rockefeller, Carnegie ou Ford, por isso acusadas de espalhar, com o seu muito dinheiro, uma «influência corrosiva na sociedade democrática». E fica o Pentágono apontado para a Ásia, gastando em «defesa» mais do que, juntas, as dez nações que se seguem nessas despesas.
Na verdade, os States tornam-se numa «ditadura democrática» e mesmo, para um crítico interno, «um Estado totalitário militar com trajo civil». O imperialismo sonha vir a ter o mundo todo nos seus braços para o digerir. Irá querê-lo aliviado de uma boa parte dos seus sete mil milhões de habitantes? [Imagem: autor, Erik Joahnsson; clique para ampliar.]

2 comentários:

Anónimo disse...

Verdades irrefutáveis.
O eufemismo "mundo ocidental" continua na boca dos comentadores que nos invadem as casas. Desde a escola primária que foi tão fácil compreender a divisão da Terra em meridianos, como conseguem encaixar o Japão, p.ex., no mesmo saco?!
Obrigado, Arsénio. Abraço do Rui.

A. M. disse...

Tens razão, o conceito «mundo ocidental» é manifestamente ambíguo. Mas é expressivo e também cómodo. Poderá ser entendido, se se quiser, como significando «da democracia burguesa». Por mim, tudo bem...
Abraço cordial.