segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ano novo... velho

Os telejornais das oito horas já haviam mostrado imagens da passagem de ano na Austrália e na Ásia, chegava agora o momento de os habitantes da ponta ocidental do continente europeu vigiarem o avanço do ponteiro dos segundos. Ia completar-se o minuto que completaria a hora que terminaria o dia do derradeiro mês de mais um ano! De uvas passas em riste, a senhora ia descontando os segundos até ao zero e, quando levou à boca a última das doze passas, soltou um brado entusiástico, triunfal.
Ali entravam todos, a senhora e o seu grupo, no novo ano. Saudavam-no com ruidosa alegria e muita expectativa, em redor de mesa bem guarnecida de comes e bebes seguindo um costume ancestral que, aparentemente, queriam manter apesar de tolhidos pela crise. Lá fora, na noite tranquila, no limiar do anno horribilis do anunciado empobrecimento, o povo também festejava e bramia: explodia uma fartura de foguetório e o céu noturno abria-se em girândolas pirotécnicas, mil luminárias em derrames ourescentes.
Os povos, da Austrália ou da Ásia à Europa, recebiam com entusiasmo o ano novo. Queriam ter, certamente, um tempo novo, uma renovação de vida. Mas acaso é, ou pode ser, o ano novo um «outro» tempo?
O que é, em rigor, o tempo (terrestre, humano)? A resultante natural dos movimentos de rotação e translação do habitáculo espacial da humanidade em redor do Sol? E o que tem isso a ver com o tempo cósmico?
A contagem do nosso tempo, terrestre e humano, marcado pelas folhas do calendário, lembra quanto o homem se faz a medida de todas as coisas. A mudança de ano é acontecimento que não interrompe uma duração em contínuo fluir. Se os povos afundados em crises de brutais consequências ainda aproveitam a ocasião para festejar, talvez estejam agora a fugir do medo mais do que a expandir crença no futuro.
A simples mudança do ano na contagem da nossa era, o que muda? O tempo é o velho, sempre. E as pessoas continuam as mesmas.

Sem comentários: