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segunda-feira, 18 de julho de 2016

O jogo e o jogo da bola

cavalo.pau.jpgReconheçamos este facto: o jogo é actividade lúdica, de índole marcadamente infantil. Jogar é brincar, lidar com brinquedos. É, digamos, diversão com uma bola, nem que seja feita de fio de lã que até o gato doméstico gosta de empurrar com as patinhas, isto é, a pôr a rolar pelo chão.
Aliás, brincar é saltar, ir aos brincos, mexer o corpo aos saltos ou em movimentos para folgar ou divertimento. A etimologia do vocábulo jogo, termo por sinal com uma elucidativa semântica, provém, segundo leio, do latim fôcu-, significando “gracejo, brincadeira, jovialidade, galhofa; divertimento, folguedo, passatempo”. Convimos, então, ou não, que o tempo vai bom para ir na marcha, a caminho da romaria?

Com boa razão a sabedoria das nações preceituava, antes da invasão do consumismo desenfreado e dos tecnocratas no poder, que a ociosidade era mãe de todos os vícios. Ora as crianças sempre brincaram. Precisam de desenvolver os seus processos de crescimento, estão portanto “ociosas” quando brincar é, na idade infantil, ocupação das mais sérias.
Mas… e os adultos? Aqueles adultos que, em espessa multidão histérica, a urrar de alegria e patriótica futebolite, festejaram a vitória portuguesa no campeonato europeu? Também brincavam… como crianças?
Vejamos: qualquer pessoa da minha geração recordará os três ff glorificados por Salazar no dia 10 de Junho de 1944 com a inauguração do primeiro Estádio Nacional no Vale do Jamor. E mais: poderá dizer todo o espanto que foi acumulando com a incrível expansão popular dos três ff, em especial os do futebol e de Fátima (mas sem esquecer Amália fadista erguida à altura de Pessoa no panteão nacional) e perceber que tal se ficou a dever, sempre, a doses cavalares injectadas atrás das orelhas do povo. Documentará o seu espanto lembrando o 25 de Abril e os seus dias de brasa, ao surgir na tv um fulano a clamar que, com a democratização, já todos podíamos encher os estádios “finalmente em liberdade”, como se a mudança de regime operada transformasse de súbito, num passe de mágica, o futebol, alienante no tempo da ditadura obscurantista, em abençoada catarse, espectáculo bom para crescentes massas de adultos sentados a ver jogos de profissionais da bola com uma presumível inocência infantil.
Posso testemunhar: na redacção do meu jornal, a primeira secção desportiva, assim designada, apareceu apenas em meados dos anos ’60. E Salazar, hoje, nem para varrer os balneários teria entrada nas majestosas Academias onde é ensinada a arte suprema de chutar a bola com a precisão de tiro de carabina de cano comprido. Naturalmente, o jogo da bola não é nenhuma ciência exacta; é um jogo de sorte e azar como tem que ser quando um lado vence e o outro acaba vencido.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Evocação: Lília da Fonseca


Gostaria de repegar no meu álbum de afeições particulares. Por diversos motivos, a vida vivida aproximou-me de pessoas estimáveis que me apraz recordar agora que pouco espaço nos resta do que anda por aí consagrado aos heróis mediáticos do tempo efémero. Recordo-as já desaparecidas, vitimadas pelo cutelo da dupla morte que nem tento esconjurar.


Lília da Fonseca é uma dessas pessoas amigas. Nasceu em Benguela, Angola, em 1916 e morou prolongadamente em Lisboa, onde faleceu em 1991. Maria Lígia Valente da Fonseca Severino, seu nome civil, pouco conhecido foi mas o nome literário que adoptou chegou a ser, sobretudo na segunda metade do século XX, bastante apreciado e querido pelos leitores de jornais, revistas e livros em Angola, Moçambique e Portugal. Destacou-se ainda por ter sido a primeira mulher que teve a coragem de concorrer às eleições legislativas para a Assembleia Nacional, em 1957, como candidata pela Oposição Democrática.
Lília da Fonseca foi jornalista (começou em “A Província de Angola”) e escritora. Fundou “Jornal Magazine da Mulher” (1950-56), em Lisboa, que dirigiu, e colaborou em numerosas publicações, como “Século Ilustrado”, “Mundo Português” e “Seara Nova”. A qualidade geral da sua intervenção cívica evidenciou-a como palestrante activa. Na literatura estreou-se com o romance Panguila, 1944, a que se seguiu Poemas da Hora Presente, 1958, Filha de Branco, contos, 1960, e, em 1961, O Relógio Parado, romance que o regime da ditadura proibiu mas que a autora reeditou após a democratização do país.
Porém, foi como autora de literatura infanto-juvenil que Lília da Fonseca especialmente se distinguiu. Publicou mais de trinta títulos, conquistou o prémio João de Deus em 1960 e em 1963, e a colecção “Carrocel”, que dirigiu, teve o apoio da Fundação C. Gulbenkian. Fundou ainda o Teatro de Branca Flor, em 1962, de fantoches, com peças e bonecos também de sua autoria.
Em Lília encontrei a vontade que quer melhorar as misérias do mundo, vontade utópica, evidentemente (e não será a utopia alimentada por alguma poesia?), mas pulsão imperecível. Com ela, com a sua amizade e com os seus livros entrei na aventura que me deixou a experimentar escrever para crianças. O caminho faz-se a andar e é pelo sonho que vamos...

Todavia, anotar o perfil da vida e obra de Lígia numas poucas linhas de extensão limitada é problemático e frustrante. O essencial fica talvez sumariado. A faltar ficará o restante, o que com ela desapareceu. [Foto: Lília da Fonseca no Porto (1970?).]

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A comunicação social devia colaborar na defesa dos Direitos das Crianças... que apenas «brincam» às guerras.