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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O mar bate-nos à porta

Tornados, furacões, inundações, secas, vagas de frio, ondas de calor – estes e outros fenómenos climáticos extremos repetem-se e vão sendo já habituais onde mal surgiam. O clima está a mudar, diz o povo, e o facto parece incontroverso porque é objectivo. É o aquecimento global, acusam, mas os climatologistas discutem e não se entendem.
Tão-pouco concordam com eles outros cientistas que também estudam as mudanças ambientais e até declaram desacreditada a ciência do clima. O entrechoque das opiniões alarga-se, argumentos e contra-argumentos espalham nuvens de poeira pelo ar, desorientando as populações que só percebem que realmente algo mudou e pressentem a enormidade do perigo. Entretanto, o consumo das energias fósseis já se projecta até 2030 sem diminuição de vulto porquanto a exploração dessas energias poluentes avança por cima dos recursos mundiais onde quer que estejam com apetite voraz quase feroz.
O simpósio internacional realizado recentemente em Varsóvia, Polónia, para “actualizar” o protocolo de Quioto adiou soluções e pouco mais. No entanto, o relatório de 800 cientistas de todo o mundo publicado no fim de Setembro por uma agência da ONU, que avaliou as alterações climáticas, deixou claro que os meios tecnológicos mundiais da geoengenharia (para enterrar o CO2) pouco ou nada podem dadas as suas reais limitações. O aumento previsto das temperaturas médias globais provoca alarmes dramáticos: sobem um grau, dois, três, ou quatro, até 2030, 2040, ou mesmo 2100?
Fechados no seu egoísmo, países e governos, sob pressão de poderosos interesses instalados, justificam-se uns com os outros na retórica e na rotina do deixa correr. De facto, torna-se cada vez mais claro que é todo o modelo de desenvolvimento mundial que está no centro do problema a reclamar solução urgente e capaz. Nesta base, com bom motivo se alvitra a criação de uma espécie de “Conselho de Segurança Climático” para dar força executiva à ONU.
Não é possível continuar a avançar pelo mesmo caminho, realmente cego, sem medir todos os riscos, no mínimo sem atender ao princípio da mais elementar prudência (ou a humanidade terá outro Planeta Azul à sua espera?) As mudanças climáticas vão alterando o regime das chuvas, a subida das temperaturas médias vai estender a desertificação e prejudicar as colheitas. O degelo de colossais massas de gelos polares e o aquecimento originam mudanças ainda pouco avaliadas e farão subir o nível dos oceanos (e será só 1 metro até 2100?!)…
Em Portugal, país com um litoral grandemente exposto à erosão marítima [ver em “Etiquetas”: erosão], as questões ambientais despertam sempre pouquíssima atenção. E agora, mais uma vez, ondas gigantes e marés vivas flagelam a costa neste período invernal, esburacando-a com surpreendente energia. E de novo os governantes de turno visitam os danos e prometem milhões para gastar em obras de protecção que mais e pior invernia vai destruir deixando o mar a bater-nos à porta ou já dentro das nossas casas.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Formiga navegante em fuga de inundação sai por portaló e alcança terra firme [foto: autor desconhecido]

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A erosão costeira


O instituto meteorológico nacional mudou a tabuleta, agora designa-se do Mar e da Atmosfera. Compreende-se: é na zona marítima e no ambiente planetário que se concentram as mudanças mais extremas provocadas pela acumulação das agressões humanas contra os equilíbrios ecológicos. As costas continentais, com imensos pontos críticos, estão sob ameaças tremendamente dramáticas e ninguém já discute o aquecimento global porque não tem remédio nem há tempo a perder.
Portugal, país cronicamente mal administrado, tem uma longa costa muito aberta aos assaltos constantes do mar. Eu, que me tomo por especialista de coisa nenhuma, pus aqui “A erosão da costa” em 13-11-2011, e a crónica surpreendeu, oxalá que alarmando também, os leitores que esta coluna tem na minha região natal, a Bairrada. Regresso hoje ao tema, como simples cidadão, curioso interessado, pois na zona me fiz quem sou, com os pés na Ria, passeio à Torreira, banho na Costa, trepa ao farol da Barra, salto à praia da Vagueira ou mais além…
Quero registar, com o devido agradecimento, um estudo do Dr. Paulo Manuel Correia Silva intitulado “A tendência da linha da costa entre as praias da Maceda e São Jacinto” resultante da dissertação do seu mestrado na Universidade de Aveiro. (http://hdl.handle.net/10773/9652) A leitura não é pêra doce, evidentemente, mas, sendo significativa, abunda em conhecimento útil. O Autor considera que aquelas praias, arenosas, estão expostas “a um grande recuo da linha de costa na maioria da área de estudo, devido à redução no fornecimento de sedimentos e a condições de elevada agitação marítima.”
O seu estudo, com 111 pp, baseou-se bastante na interpretação de fotos aéreas obtidas em 1958, 1970, 1998 e 2010-12 na zona costeira em foco. Revelaram “uma taxa de erosão de cerca de 4 m/ano na zona de Maceda e taxas de acreção que alcançam os 11 m/ano na zona de S. Jacinto.” Estas taxas de acreção devem-se “a existência de estruturas humanas, tais como os esporões, que são usados para proteger as áreas urbanas (Furadouro e Torreira) e o porto de Aveiro.” Anota: “As linhas de projecção futuras mostram que em algumas zonas a linha de costa poderá recuar 80 m em 20 anos (Maceda), sendo devastados hectares de floresta. Em S. Jacinto, a norte do molhe do porto, pode haver uma acreção de 220 m[etros].”
Oxalá que o Dr. Paulo M. C. Silva, no seu percurso académico posterior, estenda a investigação para sul (até Mira?), por onde as fragilidades do cordão dunar abrem a costa à penetração das correntes marítimas. Por assim dizer, quase toda a costa que envolve o litoral português - onde se aglomeram tantas populações! – aparece em risco de catástrofe natural que os próprios governantes anunciam desde há anos como inevitável. Avisam mesmo que Portugal não dispõe de meios materiais para deslocar essas populações, que perderão tudo, casas e terrenos, devido à erosão costeira - uma tragédia terrível, pesadelo anunciado.
Nota final. As costas foram declaradas propriedade pública do país em 1864. No entanto, sabe-se em geral quanto os governos se descuidam de governar a valer e quanto os portugueses, concordando com os seus (des)governantes, se descuidam da governação nacional. Mas motivou espanto retinto a notícia do semanário “Expresso” de que 30% das costas portuguesas ainda hoje eram propriedade privada, tal como uma praia muito popular frequentada pelos lisboetas. Espanta-se ainda mais quem tem ideia da quantidade incrível de entidades oficiais que cai sobre alguém com projecto incidente na zona. Existem para quê?!

domingo, 22 de julho de 2012

Eucaliptos: o emblema final

Sobressaltam-se ambientalistas, ecologistas, paisagistas, técnicos de ordenamento do território, amigos da conservação da natureza em geral. O governo declara-se disposto a retirar todas as barreiras legais que impedem ou condicionam a expansão do eucalipto pelo território nacional. É caso para propor que os governantes substituam o emblema que exibem na lapela pelo ícone da árvore que tão bem lhes quadra.
Assim vão ser atiradas para o lixo todas as legislações nacionais produzidas desde o início do século XX que regulavam (pouco) o plantio daquela árvore invasora. Tem poucos amigos, mas poderosos (donos dos lucros das celuloses), e muitos inimigos sem poder. Todavia, sabem reconhecer na árvore um comportamento que até descrevem como «fascista»: come tudo em redor e não deixa nada.
Realmente, o eucalipto cresce depressa esgotando também depressa a humidade e o húmus contidos nos terrenos. Existem largas centenas de tipos diferentes, mas o que por aí abunda são os do crescimento mais rápido, logo os que mais depressa esgotam o potencial produtivo dos terrenos. Os amigos da natureza andam há imenso tempo a prevenir que tal árvore, sendo cheirosa, arruína os solos e expande no país maus cheiros e desertificação.
Ora o governo faz orelhas moucas para o que os tais muitos sem poder dizem e ouve os poucos com poder que lhes dizem o que querem ao ouvido. Tudo o que estes tem vindo a ganhar parece-lhes pouco. Os próprios incêndios na floresta (que este ano, piores que nunca, alastram sem travão), segundo pretendem certas insinuações, acabam por beneficiar de vários modos apenas as celuloses.
Porém, a consequência de maior gravidade que a medida decerto vai ter atinge a existência dos baldios. Herança histórica que remonta ao fim do feudalismo, os terrenos baldios são propriedade comum dos moradores de cada lugar como pastagens e reservatórios de lenhas. Nos anos '60, ocupavam 6% do território nacional; presentemente serão 420 mil ha.
Carlos Rebola, bloguista que lembro com saudade, fez há anos uma pesquisa e colocou em Google.docs um acervo importante de documentos sobre baldios, mas há outra informação disponível. O problema, agora, consiste na dúvida: irá o governo dar rédia solta às empresas madeireiras e deixá-las avançar (apropriarem-se?) por cima dos baldios? Dúvida justificada: a questão dos baldios está aberta desde há muito tempo e estes governantes ultra-neoliberais sentem-se dispostos a entregar tudo de mão beijada.
Portugal vai assim a caminho do futuro que certo economista americano veio apontar-lhe: apostar na produção florestal. Sem outro emprego, metade dos portugueses, de tanga e com rendimento de sobrevivência, cuidarão dos eucaliptais e a outra metade terá orgulho terceiromundista por exportar a pasta, matéria prima, e importar o papel fabricado. (Imagem: desenho de Pawel Kuczynski.)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Escultura ao ar livre


Pouco espaço resta, actualmente, à escultura, para se exibir e guardar, que não seja museu ou ar livre. Mas no museu entra hoje somente a obra consagrada, ficando cá fora muito de bom e do menos bom, senão do detestável que se vê por aí, nas rotundas em vertiginosa propagação, como mamarrachos erguidos à categoria de arte. Contudo, entre as macaqueações de escultura que surgem e se multiplicam no espaço público, aparecem obras com verdadeira dignidade estética, merecedoras de atenta contemplação. Estas obras, expostas ao ar livre, portanto em pública fruição, concretizam o que parece ser a autêntica função da escultura admirável que não «cabe» nos museus, instituições que, cabe lembrá-lo, tão poucas pessoas frequentam. É o caso deste díptico de autoria do escultor Bruno Catalano (França). Resulta fortemente expressivo. O Emigrante que parte não parte inteiro: deixa para trás a terra que leva, agarrada às solas dos sapatos, com um enorme buraco aberto no peito; o Imigrante que chega ao destino é o estranho homem dividido entre um lá e um cá, sem verdadeiramente a nenhum lado pertencer por inteiro. O drama humano da emigração é paralelo a outro de não menor atualidade - o drama dos refugiados, seja de conflitos étnicos, religiosos, políticos, regionais ou nacionais. Sem esquecer os refugiados naturais, deslocados por cataclismos ou transtornos insuportáveis do clima (poluição, erosão, desertificação) ou de crise.

domingo, 13 de novembro de 2011

A erosão da costa

Uma agência da ONU virada para a conservação da natureza anunciou há dias que, a não serem tomadas medidas convenientes dentro de cinco anos, irão concretizar-se danos irreversíveis. O anúncio, sem estranheza, passou e de imediato ficou esquecido. Mas tem um alcance verdadeiramente dramático e estou a relembrá-lo por uma obrigação imposta pelas imagens divulgadas também naqueles mesmos dias pela nossa comunicação social.
As imagens e as notícias daqueles dias expunham mais uma vez o problema da erosão que atingia largos tractos da nossa costa marítima. Escrevi atingia, colocando o verbo no passado, sabendo porém que o problema se repete e se agrava desde há muitos anos. A costa portuguesa, em quase toda a sua extensão, sofre ataques das marés vivas em certos períodos do ano nos seus pontos mais baixos e indefesos.
Soam então os alarmes, avaliam-se os prejuízos e tornam os lamentos, em seguida cuida-se de amontoar aqui e ali, nos pontos críticos, mais umas pedras (se já ninguém reclama mais um quebra-mar!) e tudo fica de novo posto em sossego até às próximas investidas do oceano. Todavia, estão bem assinalados os pontos críticos: vão (ver mapa) desde a zona de Esposende até à zona do Oeste. Mas, evidentemente, há outros pontos expostos às investidas da força maior.
As alterações climáticas em curso, com a previsível subida de nível do Atlântico, juntam-se a uma certa acumulação de comportamentos de risco que, embora sonegados, são, segundo opinião credível, bem reais. Os rios selvagens portugueses estão «domesticados» com barragens, o que impede a natural reposição das areias no litoral marítimo, ali onde o mar nos parece teimoso a «comer» os areais das zonas balneares. A conjugação dos factores em presença abre a costa, aqui e ali, aos avanços das ondas salgadas, de modo que o presidente da Administração Regional Hidrográfica do Norte (Lusa/«Público», 12-11-11) aconselha já um recuo das povoações em risco para o interior.
O presidente, António Guerreiro, falou em Castelo de Neiva, Viana do Castelo, oxalá seja ouvido em todo o país.

Avaliando o próximo desenvolvimento da actual situação, é de recear que o mar venha a ocupar em breve grandes porções de território, especialmente na zona abrangida pelos pontos críticos assinalados. O rectângulo continental perderá bastante do seu tamanho, o que irá concentrar a população numa ainda mais estreita faixa pois o interior do país terá um maior ermamento. E a minha Bairrada natal - planície baixa situada entre Aveiro e Coimbra, Águeda e Cantanhede - desaparecerá, junto com a nossa Ria, sob a cobertura das águas, para emergir somente em algumas colinas dispersas acessíveis a embarcações (nessas colinas se radicaram outrora os primitivos habitantes), de modo que o mar vizinho retomará o lugar que há séculos foi seu e o assoreamento lhe secou...