segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A erosão costeira


O instituto meteorológico nacional mudou a tabuleta, agora designa-se do Mar e da Atmosfera. Compreende-se: é na zona marítima e no ambiente planetário que se concentram as mudanças mais extremas provocadas pela acumulação das agressões humanas contra os equilíbrios ecológicos. As costas continentais, com imensos pontos críticos, estão sob ameaças tremendamente dramáticas e ninguém já discute o aquecimento global porque não tem remédio nem há tempo a perder.
Portugal, país cronicamente mal administrado, tem uma longa costa muito aberta aos assaltos constantes do mar. Eu, que me tomo por especialista de coisa nenhuma, pus aqui “A erosão da costa” em 13-11-2011, e a crónica surpreendeu, oxalá que alarmando também, os leitores que esta coluna tem na minha região natal, a Bairrada. Regresso hoje ao tema, como simples cidadão, curioso interessado, pois na zona me fiz quem sou, com os pés na Ria, passeio à Torreira, banho na Costa, trepa ao farol da Barra, salto à praia da Vagueira ou mais além…
Quero registar, com o devido agradecimento, um estudo do Dr. Paulo Manuel Correia Silva intitulado “A tendência da linha da costa entre as praias da Maceda e São Jacinto” resultante da dissertação do seu mestrado na Universidade de Aveiro. (http://hdl.handle.net/10773/9652) A leitura não é pêra doce, evidentemente, mas, sendo significativa, abunda em conhecimento útil. O Autor considera que aquelas praias, arenosas, estão expostas “a um grande recuo da linha de costa na maioria da área de estudo, devido à redução no fornecimento de sedimentos e a condições de elevada agitação marítima.”
O seu estudo, com 111 pp, baseou-se bastante na interpretação de fotos aéreas obtidas em 1958, 1970, 1998 e 2010-12 na zona costeira em foco. Revelaram “uma taxa de erosão de cerca de 4 m/ano na zona de Maceda e taxas de acreção que alcançam os 11 m/ano na zona de S. Jacinto.” Estas taxas de acreção devem-se “a existência de estruturas humanas, tais como os esporões, que são usados para proteger as áreas urbanas (Furadouro e Torreira) e o porto de Aveiro.” Anota: “As linhas de projecção futuras mostram que em algumas zonas a linha de costa poderá recuar 80 m em 20 anos (Maceda), sendo devastados hectares de floresta. Em S. Jacinto, a norte do molhe do porto, pode haver uma acreção de 220 m[etros].”
Oxalá que o Dr. Paulo M. C. Silva, no seu percurso académico posterior, estenda a investigação para sul (até Mira?), por onde as fragilidades do cordão dunar abrem a costa à penetração das correntes marítimas. Por assim dizer, quase toda a costa que envolve o litoral português - onde se aglomeram tantas populações! – aparece em risco de catástrofe natural que os próprios governantes anunciam desde há anos como inevitável. Avisam mesmo que Portugal não dispõe de meios materiais para deslocar essas populações, que perderão tudo, casas e terrenos, devido à erosão costeira - uma tragédia terrível, pesadelo anunciado.
Nota final. As costas foram declaradas propriedade pública do país em 1864. No entanto, sabe-se em geral quanto os governos se descuidam de governar a valer e quanto os portugueses, concordando com os seus (des)governantes, se descuidam da governação nacional. Mas motivou espanto retinto a notícia do semanário “Expresso” de que 30% das costas portuguesas ainda hoje eram propriedade privada, tal como uma praia muito popular frequentada pelos lisboetas. Espanta-se ainda mais quem tem ideia da quantidade incrível de entidades oficiais que cai sobre alguém com projecto incidente na zona. Existem para quê?!

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