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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O mundo tripolar


Não saberemos, quem me lê e quem isto escreve, de economia e finanças tanto quanto os especialistas encartados que falam e falam, prognosticam e comentam. Mas nada nos impede de ter umas ideias sobre o assunto, pois também os factos troçam de ideias e previsões lançadas pelos sabichões, condenando-os a saberem o que aconteceu e porque aconteceu quando já todos vivemos o assunto. Consideremos portanto como é o sistema capitalista, hoje.
Será isso como quem desenha a traço grosso e vê hoje o mapa-múndi com que aspecto? Dividido em três blocos: o Ocidente, encabeçado por Estados Unidos, as nações da União Europeia e todas as outras aderidas à NATO ou, de qualquer modo, integradas na esfera de influência norte-americana (a exemplo do Canadá, Japão ou Austrália). O segundo bloco será a Rússia, um território imenso que vai do Atlântico ao Pacífico, e o terceiro será a China ao lado da Coreia do Norte.
Mas terá desaparecido o confronto russo-americano que caracterizou a “guerra fria”? Parece que não, reactivou-se. Foi-se o equilíbrio bipolar dos dois blocos e temos a persistir uma modalidade de “guerra fria” no mundo agora tripolar, o da globalização.
Sim, a negregada globalização, engendrada pelas conveniências da concentração de capital financeiro tão colossal que exigiu (a parlamentos, partidos e governos cúmplices) a máxima liberdade e a alcançou para manobrar à vontade os seus caudais deslocando-os para aqui e para além como investimentos tratando de esconder, sem dar cara e nome, mais e mais milhares de milhões nos paraísos fiscais. Ora a sombra da globalização é o neoliberalismo, a austeridade, que o FMI, o Banco Mundial ou a União Europeia teimam em receitar como cura para os défices orçamentais, o desemprego, a escassez de crescimento económico. Todavia, o que mais abunda no Ocidente é a realidade da estagnação (famílias, empresas, bancárias incluídas, e nações depenadas até à medula).
No entanto, podemos ter no mercado kiwi da Nova Zelândia, bananas da América Latina e de África, caju do Irão, batatas e legumes de Espanha, assim como quotas comunitárias que nos cortam a produção nacional. O capitalismo das grandes empresas de especulação financeira ou uns famosos fundos de investimento dispensou a mesquinhice dos lucros da indústria e foi estabelecer-se nos paraísos fiscais. Explora tão bem o comércio, conforme se vê, das export-import subsidiadas que se ri dos custos de transportes e, quanto a danos ambientais, esfrega o riso na ecologia.
Iremos chegar a um mundo multipolar? Será a confusão total. Entretanto, atenção, muita atenção: vejam os maravilhosos jogadores que valem milhões porque fazem os golos e que temos de comentar e admirar porque os seus golos valem milhões…

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O mundo dos bárbaros


bárbaros.jpgUm vento de insânia, tenebroso e gélido, atravessa os continentes e parece atordoar os cérebros, eclipsar os direitos humanos, transformar os princípios éticos ou a própria decência civil em toleima anacrónica. Trump, candidato estado-unidense à presidência, repete frases bombásticas de estarrecer, no Brasil o golpe de Estado de Temer é escândalo posto em cima de um monte de escândalos (veja-se o retrato dos ministros do “governo de gestão” que até já quer mudar a Constituição), Uribe, presidente da Colômbia, apelou em Miami, em cimeira “Concórdia”, por uma intervenção militar de “forças armadas democráticas” na Venezuela em apoio da oposição e, sem dúvida, para enterrar a Revolução Bolivariana, Cristina Kirchner, após doze anos a morar na Casa Rosa argentina, e seus filhos enfrentam seis acusações de corrupção. Na (des)União Europeia há cada vez mais países em derivas políticas radicais quase incríveis, como na Áustria, Dinamarca e França austeritária com novas leis laborais impostas por decreto.

Na Indonésia, o presidente eleito promete eliminar criminosos matando-os, prender manifestantes e teria muito gosto se tivesse violado também uma tal freira bonita. Duterte, novo presidente das Filipinas, quer mudar a Constituição e aplicar “linha dura” na governação (em campanha já ameaçava matar “traficantes”) e desafia a China dispondo-se a reivindicar umas ilhas em disputa. Tudo isto, apanhado num simples relance, deixa uma pessoa estupefacta, de boca aberta: estará o Mundo entregue aos bárbaros?
Olhando um pouco ao lado e girando o globo, está a Rússia rodeada mais e mais por forças e aliados dos Estados Unidos. Na Ucrânia, antigo “celeiro da Europa”, Yanukovych ganhou a presidência em 2010 numas eleições perfeitamente democráticas (mas o que vale hoje a democracia?), o parlamento destituiu-o e ele exilou-se em 2013 para ser substituído por Poroshenko, pró União Europeia e NATO. No Egipto, Morsi, da Irmandade Muçulmana, venceu as primeiras eleições democráticas do país mas foi deposto em 2013 por golpe de Estado do general Al-Sissi que, com nova Constituição, declarou a Irmandade “terrorista” e legalizou a pena de morte, pelo que o tribunal condenou 529 pessoas num único dia, aumentou a repressão (mortos 595 manifestantes pró-Morsi em 14-08-2013, outros 152 condenados, jornalistas perseguidos, etc.), mas atenção, Al-Sissi não é ditador! (soube entregar duas ilhas à Arábia Saudita em troca de grande ajuda financeira para as forças militares egípcias).
E na Turquia? O presidencialista Erdogan sabe jogar em tabuleiros diferentes sempre a ganhar, acusam-no de corrupção mas o homem defende-se, persegue opositores, prende e leva julgamento jornalistas mesmo estrangeiros para os quais o partido curdo não é “terrorista”, e não lhe falem de direitos humanos, de refugiados ou do acordo que fez com a Alemanha de Merkel. É este o mundo dos bárbaros: inimigos da civilização, da dignidade humana, da justiça.

domingo, 15 de abril de 2012

Filosofia da miséria

Os centros «inteligentes» da propaganda do sistema que desgoverna o mundo trabalham sem descanso. Pensando por nós, têm a suprema bondade de dizerem ao rebanho em que nos vemos metidos qual o melhor caminho a seguir. Até ontem empurraram-nos para consumir ao máximo tal como hoje nos aconselham a dar mais (ao sistema) e a reclamar menos.
Querem convencer-nos, com óbvio cinismo, de que somos, nesta alegada «vida passageira», bastante afortunados - e, caramba!, ainda reclamamos? Um pps a circular na Internet, que se reclama de «o melhor mail do ano», traduzido do inglês para português, chapa-nos com a novidade na cara. Somos uns felizardos: não mendigamos na rua nem aguentamos com os maiores sofrimentos do mundo e tão-pouco pensamos em desistir da luta pela vida até porque chuvas diluvianas não nos têm trazido inundações.
Uns grandes sortudos, portanto. Temos escolas bem apetrechadas, família organizada, não morremos de fome, temos jogos e distracções em barda e até temos camas para dormir e sapatos para calçar. Sem esquecer os amigos que temos, os nossos sistemas de transportes e estas sociedades «mais justas do que outras»...
A mensagem é clara: «Aproveita a vida como ela vem. As coisas são piores para os outros e muito melhores para nós.» A filosofia da miséria conduzida pela miséria da filosofia!
Pretende, em suma, que aceitemos sem enérgica resistência o empobrecimento causado pelas nefastas políticas neoliberais que tão pesadamente atingem as classes médias. Mas a estratégia do poder financeiro internacional, servilmente servida pelos governos, salta hoje aos olhos. Durante dezenas de anos andou a gritar que consumir era bom, fossem casas, automóveis, viagens a crédito baratinho, para caçar o povo na armadilha.
Aquela aparente «expansão» do consumo e da economia, afinal, serviu ao poder financeiro, corporizado pelos bancos, para criar a «bolha» que, ao rebentar, mostrou quanto era ilusória. Depressa o disco virou: agora a cantiga quer fazer-nos aceitar a perda das funções sociais do Estado, o abaixamento real do nosso nível de vida pautado por uma radical pobreza e todos os desaforos que sabemos. Em troca, as classes médias (que compõem a principal fatia da população) trabalham mais recebendo menos e pagando mais impostos, suportando a subida de preços e votando quando é preciso, nos partidos governamentais, para neles legitimar o poder «democrático»...
É preciso clamar, com potente sonoridade, contra tão desgraçada estratégia das centrais de «inteligência» do sistema. É preciso denunciar à maioria da população a política que, votando, está a apoiar e a pagar. O Estado, com as suas dívidas «soberanas», pesa nos ombros do povo, mas os seus recursos são cada vez mais desviados para ricos lóbis que reivindicam mais do que o pobre povo: grandes empresas (EDP, PT, etc.), parcerias público-privadas, pontes e auto-estradas de rendimento garantido, subsídios à exportação e, claro, bancos que o Estado protege e não deixa falir...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O caminho da subversão

Movemo-nos, já ensurdecidos, entre discursatas sem fim que se cruzam no ar com opiniões sobre a «crise» apreciada por todos os ângulos imagináveis. É o problema das dívidas soberanas, das agências de rating e dos «mercados» ou da inépcia franco-alemã. Porém, sendo diferentes, as opiniões são concordes num ponto: não dão nome claro ao monstro.
Ora é preciso nomeá-lo para olharmos de frente a monstruosidade. Não é fácil descer ao fundo da questão largando os toques pela rama, mas estamos dentro do labirinto e sem podermos fugir ao minotauro. Esforcemo-nos, pois, com a máxima aplicação, para chegarmos a compreender bem como funciona hoje  e nos avassala o sistema financeiro internacional, isto é, como avançamos sem tino pelo caminho de uma global subversão.
Vemos as classes médias a desaparecer e a pobreza, o desamparo, a miséria a aumentar... e o que nos impede de crer na luta de classes? Dizem-nos que entre 2000 e 2009 uns 150 mil milhões de rendimentos saíram do país e agora temo-lo afundado num mar de dívidas, sob um regime de austeridade imposto pela troika externa (que o Governo recém-eleito agrava achando-o escasso), em resultado das políticas de direita praticadas nos últimos trinta anos... e os eleitores deram 78% dos votos aos três partidos que puseram o país nesta situação? Que explicação haverá melhor do que esta, que a riqueza (mal) distribuída de 99% da população está a ir para as mãos de 1%?
O fim da regulação do sistema financeiro pelos poderes estatais abriu as portas à instalação do capitalismo selvagem. A estratégia especulativa da alta finança, depois de atrelar os governos aos seus interesses gananciosos e de criar o seu «mercado», aposta na exploração das riquezas de cada Estado mais a jeito (de estrutura económica mais frágil) através dos bancos nacionais. Assim, cada um destes Estados dilui pouco a pouco o seu papel histórico - garantia aos cidadãos os seus direitos constitucionais, no mínimo os direitos humanos - e, pela imposição de cargas tributárias crescentes, vai-se transformando em agente da acumulação capitalista na mais aguda fase imperialista.
Nesta viragem, os Estados tomam o papel de inimigo das classes médias ao tornar-se em funcionais órgãos da ganância da especulação financeira do grande capital. Começam por induzir as classes médias a consumir e a endividar-se (dinheiro fácil volve-se dívida generalizada) e quando a bolha criada rebenta, chegam os programas de austeridade e mais e mais recessão. Declara-se então a ditadura da debitocracia - o poder maior das dívidas acumuladas sobre os povos que têm de as pagar.
É uma síntese sem dúvida esquemática e abreviada mas clara quanto basta para alertar os distraídos de uma viragem fundamental. Os Estados mudaram. Existem para apoiar, em primeiro lugar, as políticas convenientes delineadas por quem manda no FMI, no Banco Mundial, nas agências de rating, ou em Wall Street.
Não se prevê que algum luminar da proclamada Ciência Económica venha esclarecer o ponto, ocupados como andam com as suas aulas ou a discursar por conta de governos, bancos, sociedades financeiras. Tão pouco se espera que um governante, chefe de partido do arco do poder ou comentador mediático solte o trava-línguas. O caminho da subversão parece irreversível, fique este alerta metido em garrafa caída no deserto sob a violência brutal do sol donde, numa explosão, o gigante da fábula saírá novamente em liberdade para cumprir três desejos. [Imagem: pintura de Julian Beevar em chão de rua.]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eis a Nova Ordem Mundial

Esta mão errou ao escrever aqui. Há três anos aspirou por um governo mundial para governar o mundo sem perceber que o mundo  mergulhado em crise já estava servido. E agora, reconhecendo o erro porque consegue ver mais claro, vem corrigir o dito: está a funcionar plenamente uma Nova Ordem Mundial, o verdadeiro rosto do imperialismo.
É o nome de guerra da globalização, desenvolvida com destreza implacável por banksters  do cartel financeiro internacional (os tais das manigâncias impunes) e aplicada contra o euro, agora que o dólar se desfaz em oceanos  diluvianos de papel seco. A ofensiva foi lançada sob a bandeira da luta contra o défice que,  muito convenientemente, surgia nos orçamentos nacionais. Pretexto magnífico: o défice foi cavalo de tróia que entrou pela porta franca dos governos colaboracionistas para se apoderar por dentro, a pouco e pouco, dos Estados.
Serviu para aumentar os impostos, reduzir os encargos sociais, vender ao capital privado património público apetitoso, agravar o desemprego, elevar a inflação, beneficiar os lucros dos bancos, baixar o nível médio de vida, ampliar as desigualdades. Quando o equilíbrio orçamental ia de mal a pior e os Estados entraram em recessão, isto é, quando se fazia notória a necessidade de se mudar de política (da direita), a recessão levou os governos a descobrir que... dinheiro é dívida. Pedir empréstimos, a juros cada vez mais onerosos, transformou-se num jogo aberrante e as dívidas, monstruosas, foram declaradas incobráveis. Mas os banqueiros engordavam e queriam mais e mais.
O consumismo desatado serviu às classes médias para comprar casas, carros, viagens a crédito e agora a austeridade deixa tudo a nu: as famílias, as empresas, os bancos, os  municípios e os Estados encontram-se atolados em dívidas que não veem como podem pagar. Mas agora percebe-se o logro: é a Nova Ordem Mundial a comandar com  o seu  brutal «casino» financeiro. Nem a Islândia, aplicando políticas corretas após a bancarrota (e por isso banida dos media nacionais e internacionais), conseguirá talvez escapar-lhes.
As riquezas dos países ocidentais estão a ser desviadas em caudal para mãos sem rosto escondidas em parte incerta, através da simples troca dos nossos bens e privilégios  autênticos por papéis, rimas e mais rimas de títulos afinal sem valor. Quem duvida, arranje 14 minutos e veja este video no Youtube. Alguém torna a avisar-nos: povos e Estados em sucessão (Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha...) enfrentam montanhas de dívidas em crescimento, a pagar pelas presentes e próximas gerações.
É absolutamente crucial perceber, neste tempo de combates mortais entre grandes ditaduras, que  temos de conhecer sem mais demora como funciona o sistema bancário global, ainda que isso possa motivar uma revolução (glosa de frase célebre atribuída a Henry Ford). A aliança objetiva da zona euro com o dólar não parece garantir à moeda única europeia o melhor futuro nesta conjuntura em que se torna vital afiançar um sistema monetário seguro e credível. De contrário, como diz o outro, o nosso dinheiro, na carteira ou no banco, será uma ilusão temporária... [Ilustração: réplica de "O grito", de Munch; quadro executado com vegetais (batata doce), de autor desconhecido.]