domingo, 6 de maio de 2012

Net sob vigilância

Quem manda nos poderes do mundo não desarma. Os ataques continuam a ser lançados porquanto umas ilhotas de liberdade que resistem no espaço cibernético incomodam demais a gente que pretende nivelar tudo por baixo. Depois de SOPA e de ACT, que energicamente soubemos rejeitar, temos agora CISPA (Cyber Intelligence Sharing and Protection Act) a ameaçar de controlo a Internet.
Esta nova ofensiva contra a liberdade de expressão, esteio fundamental da democracia, foi aprovada pela Câmara dos Representantes norte-americana por 248 votos a favor e 168 contra.  O CISPA será usado, alegadamente (acrescenta a notícia), «em caso de possível ameaça informática», ficando esta «possível ameaça», para já, a pairar como a maior ameaça da Net que queremos autenticamente livre. O Governo português nestas coisas é zeloso e não perdeu tempo, aderiu logo.
Sobram, porém, motivos de preocupação. O novo projecto da partilha de informações privadas dos cibernautas por uma «inteligência» planetária, facilitada pelos governos aderentes, entrega aos Estados Unidos o pouco que lhe faltará para ter em posse o domínio efetivo das informações da população pouco menos que mundial. Promete agir em nome da «segurança» e da «proteção» não esclarecendo de que segurança e proteção se trata.
A preocupação avulta até porque o anúncio do CISPA coincidiu com a detenção, pela PSP, por «manifestação ilegal», de alguém que distribuía um papel informativo à porta de um centro de emprego e, em França, de um cientista parece que franco-argelino porque, veja-se isto, escreveu umas «ameaças» num mail. Assinalavámos então o Dia Mundial da Liberdade da Imprensa. E o site da Avaaz, organização consagrada à defesa de causas internacionais justas e humanas, apareceu a queixar-se de um ataque, notando que, pelo seu tamanho, «seria possível só de entidade governamental ou grande corporação».
Vai a onda imperial, finalmente, alagar o planeta e submergir a variedade imensa das ideias e opiniões em confronto vivo da humanidade plural? Ao serviço de quê? Tem a palavra, em primeiro lugar, os cibernautas.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Arsénio Sabemos que todas as nossas conversas por telefone, fax, mail e etc, enfim, os nossos dados pessoais sao conhecidos e ficam arquivados. Parece que é tudo guardado durante anos. Que interessa entao que venham agora aumentar a vigilancia. Eu nao tenho nada a esconder das autoridades, portanto pouco me importa que me vigiem. Quem nao deve nao teme.
C P.

A. M. disse...

Caro C. P.:
Vendo bem, a questão está toda nesse ponto. Quem não deve não teme, diz? Isso lembra, muito a propósito, por exemplo, uma frase célebre de Martin Luther King, prémio Nobel da Paz, sobre a boa gente que falha porque não faz o que devia fazer (naquele caso, reagir contra a discriminação racial onde ela reinava). Lembra também dois poemas muito citados, de Maiakovski e Bertolt Brecht, e depois bastante glosados por outros poetas, que falam do caso de alguém que assiste sem reagir à detenção de um digamos aqui cigano, logo de outro digamos pederasta, e logo de outro digamos muçulmano suspeito de terrorismo, e ele sempre sem reagir... até que um dia lhe batem à porta e o levam e então o desgraçado já não vê ninguém para o ajudar, é tarde demais. Moral da história: se C. P. concorda hoje tão bem com as políticas do governo, qual a sorte que vai ter amanhã quando tiver que discordar? E qual a sorte de quantos já hoje tem por força que discordar com todas as suas forças?! Onde os seus direitos cívicos? Onde a democracia?!
Eis a questão, a demonstrar quanto vale uma autêntica consciência social.

Anónimo disse...

Caro Arsénio: Estou a perceber o ponto de vista. O individualismo pode chegar a expor o individuo a grandes perigos. Obrigado.
C. P.

Maria Paz disse...

Olá! O mundo está a saque!

A. M. disse...

Viva, prezada Maria Paz! Seja bem-aparecida. Como vai Fazendo e Desfazendo (Fazendo bem!)?
Pois é, o Big Brodher quer ter-nos a todos debaixo de olho... em nome da segurança e da «guerra contra o terrorismo». Seremos acaso todos «terroristas»? :-))
Abraço cordial.