sexta-feira, 12 de julho de 2013

Questionário de Proust

Nos anos '60 esteve bastante em voga, nos meios literários, um Questionário de Proust constituído por trinta perguntas supostamente capazes de captar o perfil essencial do autor que lhes respondia. Parece que o dito ainda hoje tem uso e foi isso que me lembrou de que outrora também eu fui na onda. Topei com o esquecido texto que, nesta lonjura temporal, não lembro onde terá aparecido. Resgatado do limbo, aqui fica.

1. O que é para si a felicidade absoluta?
- Um conceito inspirado no Absoluto. Arrumou-o a filosofia no outro lado da lua.
2. Qual considera ser o seu maior feito?
- Ser quem sou.
3. Qual a sua maior extravagância?
- Acreditar tantas vezes na sinceridade alheia.
4. Que palavra ou frase mais utiliza?
- Equilíbrio. Harmonia. Paz.
5. Qual o traço principal do seu carácter?
- A procura da simplicidade. É tão prática!
6. O seu pior defeito?
- Os meus excessos.
7. Qual a sua maior mágoa?
- Contemplar o espectáculo das carneiradas a seguir atrás dos pastores a caminho do açougue.
8. Qual o seu maior sonho?
- Viver entre pessoas verticais, lúcidas, independentes.
9. Qual o dia mais feliz da sua vida?
- Continuo a esperá-lo…
10. Qual a sua máxima preferida?
- Máxima mínima: responde por ti, a mais não és obrigado.
11. Onde (e como) gostaria de viver?
- Em qualquer Cidade do Sol, na Utopia prometida.
12. Qual a sua cor preferida?
- O vermelho, cor do arco-íris.
13. Qual a sua flor preferida?
- A rosa que vai florir amanhã de manhã apesar das fúrias à solta e as outras que se anunciam.
14. O animal que mais simpatia lhe merece?
- O Homem maltratado.
15. Que compositores prefere?
- Beethoven, Wagner, Mahler, Mozart e… o rol é extensíssimo.
16. Pintores de eleição?
- Jerónimo Bosch, Rembrandt, Velázquez, Cèzanne, Picasso, etc., etc.
17. Quais são os seus escritores favoritos?
- Nos extensos pomares das selectas, como escolher apenas umas árvores e uns frutos (autores, obras) de sabores (abordagens, expressões) tão diversos e ricos – no nosso país, no espaço lusófono e na Literatura Universal?
18. Quais os poetas da sua eleição?
- Portugueses: Camões, Pessanha, Cesário, Pessoa, etc., etc.
19. O que mais aprecia nos seus amigos?
- O calor humano, a amizade, a dádiva imaterial.
20. Quais são os seus heróis?
- As pessoas que se deparam diariamente com feirantes de microfone à boca e, sem os ouvir, passam ao largo.
21. Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
- Ulisses, Jean Valjean, Jean Christophe, Demian e, entre outros, o mago que tocando gaita levou para longe da Cidade a praga dos ratos.
22. Qual a sua personagem histórica favorita?
- Buda, na companhia de Gandhi, Marx, Freud, Galileu, Einstein e de todos quantos lutaram por alguma libertação.
23. E qual é a sua personagem favorita na vida real?
- No tempo antigo, o escravo sem nome que colocou a última pedra (e depois morreu) no zigurate erigido para glória do soberano cujo nome ficou esquecido; no nosso tempo, o Che.
24. Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
- O carácter, a dignidade humana, o sentido ético, a educação.
25. E numa mulher?
- Idem, mais a beleza da sua feminilidade.
26. Que dom da natureza mais gostaria de possuir?
- Todos.
27. Qual é para si a maior virtude?
- A modéstia honrada e honrosa, sem artificialismo cabotino.
28. Como gostaria de morrer?
- Tranquilamente, num fim de tarde, a ver o pôr do sol no mar… e de ser logo incinerado.
29. Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
- Alguém capaz de emendar o mundo. Definitivamente!
30. Qual é o lema da sua vida?
- Uma vida sem lema mas com amigos convivenciais, merecendo-os; vivendo o mais possível de acordo comigo mesmo e com a natureza de que faço parte.

2 comentários:

Anónimo disse...

É bom sentir a fidelidade às respostas de há 50 anos atrás...
Grande abraço,
Rui

Arsenio Mota disse...

Caro Rui:
A tua benevolência impõe-me o dever de anotar o acrescento, no item 23, da referência ao Che, que, decorridos tantos anos, se me tornou imperiosa.
Abraço.