segunda-feira, 13 de junho de 2016

Ferreira de Castro centenário

fcastro.jpgFoi há cem anos que um novo autor português surgiu no Brasil. Para este país partira de Ossela, ainda menino, e muito novo era ainda quem se estreava nas letras. Ferreira de Castro tinha 18 anos em 1916, ao publicar Criminoso por Ambição.
A efeméride está a ser assinalada principalmente em Sintra e na terra natal do romancista com numerosas iniciativas que evocam a sua vida e obra literária. [José Maria] Ferreira de Castro (Oliveira de Azeméis, 24-05-1898 / Porto, 29-06-1974) reaparece assim em ciclos de conferências e colóquios, exposições documentais, visitas guiadas, exibição de filmes, concurso escolar, edição de selo postal e outras iniciativas em promoção por diversas entidades durante todo este ano.
Ferreira de Castro é autor de uma vasta bibliografia, que inclui obras de divulgação e viagem, mas foi com os seus romances Emigrantes, 1928, A Selva, 1930, A Lã e a Neve, 1947, e A Curva da Estrada, 1950, que justamente se celebrizou e permaneceu na memória de gerações sucessivas de leitores. Porém, os últimos livros que publicou datam de 1968, com O Instinto Supremo, romance, e Os Fragmentos, datado de 1974, ano em que morreu com 76 anos. Esteve, portanto, em actividade ao longo de 58 anos!
Realmente, foi um dos primeiros escritores portugueses que conseguiu viver exclusivamente da literatura. As suas obras mais aplaudidas eram frequentemente reeditadas porque conquistavam novas camadas de leitores, mas Ferreira de Castro foi “profissional” das letras graças à celebridade que alcançou no estrangeiro. As traduções das suas obras publicadas além-fronteiras atingiram mesmo uma cifra recorde.
O francês era então a língua de contacto nas relações culturais, na diplomacia, pois a Europa, berço da civilização greco-latina, estava no centro do mundo. As traduções francesas de Emigrantes, A Selva e outros romances abriam caminho para chegar a outras línguas… Hoje, com a predominância (ou a hegemonia?) do inglês, a situação alterou-se até se tornar irreconhecível.
Ferreira de Castro permanece, porém, na moldura do seu tempo, com todo o humanismo que impregna as páginas que escreveu. Defendeu sempre a democracia e a liberdade, a paz e a justiça para os que mais a merecem. Foi um escritor-cidadão interventivo e coerente, que pôde ainda festejar o derrube da ditadura salazar-marcelista.
Os especialistas colocam as suas primeiras obras num lugar que propiciou a formação do movimento neo-realista em Coimbra por volta de 1940. Por esse e por todos os outros motivos, é de saudar o presente programa comemorativo do centenário de Ferreira de Castro. É património nacional e universal, não imaterial porque é legível e vital como as obras de tantos autores portugueses do século XX caídas no limbo.

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