quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Medíocres contra criativos

O observador atento passa em revista os quatro cantos do mundo conhecido, vai para cima, volta para baixo, e  o que vê deixa-o confrangido e mesmo arrepiado. Para onde quer que se vire encontra mediocridade a reinar. Mediocridade estabelecida como modelo consagrado, normalizado, canónico.
Não é apenas a falta de um Mestre, com autêntico prestígio e autoridade moral, que sobressaia da vulgaridade o que marca em desgraça este tempo. O nivelamento cultural violentíssimo imposto pelas forças dominantes ao longo da segunda metade do século XX avançou pelo terreno esmagando mais e mais os brotos da diferenciação. Assim fomos levados na onda massificadora que tudo nivelou por baixo: formação escolar, participação cidadã, mentalidades, gostos predominantes, comportamentos políticos.
Nesta situação, considero muito estimulante o livro intitulado O Elemento (Porto Editora, 2010). O autor, Ken Robinson, aponta uma série de casos de sucesso conhecidos para destacar a criatividade revelada pelas respetivas personalidades. A mensagem tem a força da evidência: se essas pessoas não tivessem tido a coragem de ser «diferentes», ter-se-ia perdido o seu potencial inovador.
É absolutamente essencial para o desenvolvimento das sociedades que os dons (as vocações, as «paixões» cf. Ken Robinson) naturais de cada indivíduo se afirmem com a maior espontaneidade. Não basta declarar que a empresa, a escola, o governo ou centro de investigação querem descobrir novos talentos se não houver aí lugar para a inovação. Porque, se este lugar não estiver aberto, a inovação será travada.
Facilitadas estão somente as «mudanças na continuidade», que têm acolhimento garantido na mediocridade reinante pois parecem ser «de continuidade». Todavia, nos grupos sociais, pequenos ou grandes, uma inovação desafia a coesão do rebanho acomodado em conformismo. De facto, a dinâmica de grupo tende então a salvaguardar a mediocridade reinante contra o elemento inovador.
A expansão de tal clivagem gera e reforça as cumplicidades no interior do grupo em cada setor de atividade. Promove o mesmo-diferente, não o inovador, e assim se reproduz, passo a passo, nas hierarquias empresariais, institucionais, partidárias ou governamentais a ascensão de camadas de medíocres. Estes, habituados à hipocrisia e à lisonja, detestam os «outros» - rivais diferentes, inovadores, criativos num qualquer sentido - porque, concordando com Ken Robinson, dão vida  própria ao seu Elemento.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isto lembra uma frase de Oscar Wilde: "Para ser popular é indispensável ser medíocre." Parece que todos queremos agora ser populares...