domingo, 20 de novembro de 2011

A Europa a saque


Alguém que sabia muito, ou muito pouco e por isso inventava, sugeriu um dia que as espertezas da especulação financeira haviam começado, não na América onde cresciam os ecos das fraudes bancárias e dos «produtos» tóxicos, mas sim na Europa da União e da moeda comum. Deu-se-lhe nenhum crédito e a voz agourenta sumiu-se. Hoje, porém, num cenário europeu diverso, faz-se lembrar.
A Europa aparece declarada em irremediável e mesmo vertiginosa decadência. Os 17 aderentes do euro, com a Alemanha e a França na frente e a Grécia na cauda, parecem apostados numa navegação em oceanos de dívidas de Estados, bancos, empresas e famílias sem terra firme à vista. Soluções propostas para a crise estrutural arriscam-se a ser meros paliativos que apenas servirão para prolongar a agonia tornando-a mais funda e penosa.
As economias nacionais em geral perdem o vigor e afundam-se em austeridade e paralisante depressão. Já não são apenas os cinco PIIGS - Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha - ou a união monetária europeia que vacilam e ameaçam ruir. Os Estados da eurolândia aparecem à vista encostados uns aos outros como peças de dominó que um a um vão caindo nas garras da ganância internacional e  arrastando consigo os seus mais próximos. Nos Estados mais pobres, esvaídos e arruinados por débitos colossais, as classes médias esbracejam e caem na base da pirâmide social sem ter com que pagar os «buracos» postos a descoberto (isto é, perdendo empregos, habitações, direitos sociais, liberdades) e sem descobrir responsáveis responsabilizáveis.
À vista aparece também a relação íntima estabelecida pelos dirigentes da eurolândia, desde a criação do euro, com os pilares da alta finança internacional sediada em Wall Street: o FMI, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio. Nessa relação se encontra a chave-mestra para um correcto entendimento da «crise»  gerada pelas políticas neoliberais, paradigma este concebido pelo imperialismo de novo formato que avança pelo mundo com apoio de governos e bancos, submetendo povos e países à especulação financeira selvagem.
As manifestações de «indignados» e «ocupas» apontam na direcção certa, contra a entrega dos governos a tecnocratas não eleitos (formados na Metrópole-modelo e vindos para nos incivilizar),  a subversão das regras democráticas e o próprio fim da democracia, o espezinhar impune de direitos populares consagrados, a propaganda do medo e do «terrorismo»,  a (des)informação geral. De facto, o mercado, supra-sumo do «velho» capitalismo, foi substituído pelo poder dos «mercados» financeiros, onde actua o cavalo de tróia da oligarquia dominante que põe e dispõe de Estados e governos. A Europa, americanizando-se crescentemente (até nas mentalidades), está a perder de todo a matriz humanista que recebeu com a sua egrégia herança greco-latina e a submeter-se a um saque prodigioso que deixará no terreno um estendal de pobreza e miséria, terreno empapado de sangue, suor e lágrimas mas já sem memória e outra vez aberto para nova guerra sem dúvida entre todas a mais terrível.

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