sexta-feira, 16 de março de 2012

A estreia de um Poeta

A regra convencionada estabelece que a estreia literária de um autor ocorre com a publicação do seu primeiro livro. No entanto, esse autor pode ser já bastante conhecido pelas colaborações soltas que foi espalhando através dos anos nas páginas da imprensa até se fazer notar. É este, de novo, o caso do brasileiro Alexandre Guarnieri.
O seu primeiro livro, Casa das Máquinas (Editora da Palavra, Rio de Janeiro, 2011, 184 pp), ao evidenciar uma voz poética bem amadurecida, revela também a dimensão e a qualidade do investimento que recebeu. Trata-se sem dúvida de um projeto pessoal ambicioso e convincente, longamente decantado e trabalhado pela força criativa do autor. Nas mãos do leitor, o livro, folheado, apresenta o apurado grafismo de uma obra que em si própria se harmoniza definitivamente com corpo e conteúdo.
Alexandre Guarnieri, carioca nascido em 1974 e professor de área creio que próxima da educação pela arte, terá trabalhado no seu projeto, ao que julgo, sem pressas e com afinco até nele encontrar a sua voz. Soube esperar e amadurecer para finalmente poder surgir em plena forma. Sendo Casa das Máquinas, portanto, obra de estreia, é também uma vigorosa afirmação de novo poeta que marca o seu lugar no panorama literário luso brasileiro atual.
As singularidades destes poemas abrem-se em diversos sentidos inovadores. Mas não é poesia de acesso fácil para o leitor comum. Um apresentador da obra, Marcus Fabiano Gonçalves, poeta e antropólogo, explica: «Afinal, é dos paradoxos de uma robusta e delicada maquinaria da linguagem que Guarnieri nos fala. E como ela é blindada por um invólucro viscoso contra as investidas de decifração pela reflexividade, só mesmo à poesia ela poderia entreabrir-se assim, majestosa e circunspecta.»
Em posfácio, outro apreciador, o poeta e crítico Mauro Gama, começa anotando: «Não existe lirismo, na poética [...] de Guarnieri. Sua atitude estética é de um realismo essencialmente objetivo, e imediato.» Na verdade, a Casa das Máquinas organiza um minucioso maquinismo verbal de engrenagens, engates, válvulas, turbinas,  rebites, parafusos, lâmpadas, chips eletrónicos, óleos, ferros, combustões, todo um mundo mecânico que evoca Cesário Verde e a Dispersão de Mário de Sá-Carneiro. Resulta numa metáfora tão poderosa contra este mundo terrivelmente desumanizado que a denúncia envolve a obra de A. Guarnieri num singular halo poético. [Imagem: pintura naïf de autoria não identificada.]

1 comentário:

Anónimo disse...

Vejo no autor Alexandre Guarnieri, um jovem com uma voz poética com grande futuro para o século XI,após ler o seu livro(CASA DAS MÁQUINAS)aconselho adquirirem este exemplar um projecto ambicioso do autor.


assino por baixo
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Manuel Passos