domingo, 15 de julho de 2012

Mando carta aberta

Caro amigo: Lamento mas não o acompanho nessa queixa dos sábios que procuram a tal «partícula de Deus» no Universo. Desde logo, aprecie a beleza poética da metáfora introduzida (pelos físicos?) e a sua expressividade. Sobretudo considere comigo que os cientistas do CERN estão a responder ao que reclama: «E então a "partícula do Homem", quando a buscam, qual é e onde está?»
Concordamos num ponto, a ciência não mata a filosofia. Acho que aquela se relaciona intimamente com esta e que ambas, seguindo linhas paralelas, se inter-influenciam. Dir-se-á, com certa razão e lamento, que na atualidade é a ciência que avança puxada pela evolução geral das tecnologias, e a filosofia (isto é, as Humanidades), que relativamente se atrasa.
Porém, o avanço da investigação que provou a existência de um «bosão de Higgs» está aí a demonstrar precisamente quanto a ciência pode influenciar e mesmo servir a filosofia. Trata-se de conhecer o funcionamento da misteriosa partícula subatómica que recebeu o nome do seu, agora festejado, descobridor. Higgs percebeu que essa partícula teria fatalmente que existir ali para organizar os átomos, ou seja, a matéria.
Ora nós, a humanidade inteira e tudo quanto na realidade existe, somos matéria. Precisamos sem dúvida nenhuma de conhecer todos os segredos desta matéria de que somos feitos. Os conhecimentos científicos mais avançados - e nós, uns leigos, com eles aprendemos - detiveram-se numa «fronteira» teórica que deixa imensas evidências sem explicação, sejam de aparência comezinha como esse bosão indetectável no interior de um átomo ou espetacular como a força que põe a girar uma galáxia inteira ou abre algures um dos chamados buracos negros gigantescos que tudo sugam para um «outro lado» invisível, inconcebível.
Eis o motivo por que me parece fundamental a investigação desenvolvida no CERN, mais fundamental, suponho, do que ir à Lua ou a Marte ou militarizar o espaço (área nova de confrontos bélicos). Suponho que designar o bosão como a «partícula de Deus» lhe cai mal no ouvido, pois o conheço tão agnóstico quanto eu, mas repare: a metáfora, bem apreciada, contém uma pitada de humor. Os cientistas de infinitas gerações avançaram até o ponto em que hoje estão sem jamais encontrarem o Criador e explicando sempre, experimentalmente, os fenómenos naturais; logo, talvez Ele pudesse estar escondido naquela simples partícula que parece abrir para um outro Universo (de antimatéria?) ainda por desvendar...

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