MENSAGEM DE MARIA TERESA HORTA
divulgada pela Sociedade Portuguesa de Autores
Beleza a beleza,
constrói-se a poesia, pedra a pedra de luz, imagem a imagem, na busca da
linguagem indócil, a quebrar a solidão e a entrega. Farpa, espinho e lenho, mas
também júbilo e regozijo. Nada é impossível ao nosso imaginário, em poemas
inquietos e fulgentes, por onde a pantera corre,
ao longo de versos e sonhos.
Desobediência a desobediência,
constrói-se a poesia. Asa e voo voado, até se tornar rosa de cintilação maior, a nomearmos a criatividade, a fundação das escritas, em busca dos cometas
suicidas e das constelações, no labor do poema.
Sírius e cassiopeia. Oh, a nossa língua construída com os rigores das palavras
únicas,
sublevadas e insurrectas.
Deslumbramento a deslumbramento,
constrói-se a poesia. Navegação de versos a derrubar fronteiras, negando-se às
obediências cegas e às interdições, aos tempos de assombramentos e
obscurantismos.
A recusar princípios de aceite imposto e ruínas, de onde nos espreitam já: os
ditadores, os lobos da crueldade, os censores e os inquisidores embuçados,
do Apocalipse.
Insubmissão a insubmissão,
constrói-se a poesia. A combater a escuridade e o punhal da insídia, as
mordaças, as algemas. Com o canto, com as odes e os hinos de versos
revoltosos, armados com as nossas palavras de poeta, poente e alva.
Voo ardente e desacato.
Corpo a corpo,
constrói-se a poesia, no seu insondável trabalho de sílabas e imagens,
metáforas e rimas, coração tumultuado e incansável, a combater as vozes
obscuras, à cabeceira da lonjura. Grão e bago de claridade de nos salvar,
porque a poesia redime mas não apazigua.
Porque a poesia salva, mas não aquieta.
Sonho a sonho,
constrói-se a poesia, de utopia em utopia, de igualdade em igualdade, a deitar-se
o poema na mesa, no lençol, no joelho, na pele ensimesmada do pulso.
Nossa arma maior
De liberdade em liberdade.
Maria Teresa Horta
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