Venho a comentar desde há anos as transformações operadas por uma deriva ideológica que arrasta a literatura portuguesa. Os novos autores, surgidos nos últimos trinta anos, revelam tendências para uma “neutralidade” política nas obras que publicam e essa tendência parece em expansão. Evidentemente, pouco escutada tem sido esta voz recôndita, mas de súbito eis-me colocado em notória companhia.
O escritor Eduardo Pitta, em crónica saída na rubrica Heterodoxias da revista “Ler” de Março passado, que um bom amigo me trouxe, pôs o assunto na mesa com magnífica frontalidade. Alinhou uma dúzia de novos ficcionistas para lhes notar uma “aparente abulia política”.
Que escritores portugueses eram os mais relevantes em abril de 1974?, começa Eduardo Pitta por perguntar. Recorda José Gomes Ferreira, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Óscar Lopes, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Natália Correia, Urbano Tavares Rodrigues e David Mourão-Ferreira. Acrescenta Alexandre O’Neill, Herberto Helder e Ruy Belo, que “eram grandes poetas, admirados e respeitados pelas elites cultas, mas sem peso no Meio”. E agrega ainda, entre os “dominantes”, os “tolerados (Cesariny) e os tonitruantes (Ary dos Santos)” para reconhecer – “todos davam a cara”.
Quer dizer: eram figuras da oposição democrática ao regime da Ditadura; autores de obras literárias impregnadas de valores ideológicos afins e cidadãos prestigiados pela coerência ideológica que demonstravam. Eram!... E hoje?
Pitta confronta-os com os “novos” Rui Cardoso Martins, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, Alexandre Andrade, Valter Hugo Mãe, Rui Herbon, Rui Manuel Amaral, Jacinto Lucas Pires, José Luís Peixoto, Sandro William Junqueira, João Tordo e David Machado. São “autores nascido entre 1967 e 1978” e, note-se, distinguidos com prémios e traduções! “Gostava de saber – escreve Eduardo Pitta – o que pensam da falácia europeia, do desemprego sem freio, do empobrecimento geral, dos direitos das minorias”, etc., ou seja, dos problemas que afligem os portugueses na actualidade. Simples equação. Serve para demonstrar a radical limpeza que tem vindo a expurgar a nossa literatura – e não só a ficção – de sinais de envolvimento social dos novos autores. O alheamento ou a recusa de cor ideológica (máxime, de esquerda) implantou-se como regra.
O compromisso dos novos ficcionistas é com o mercado, onde qualquer tendência politica ou ideológica não “natural” (isto é, estranha à opinião vulgar) resulta “incómoda” pelo risco de poder estragar o negócio. Esses autores do verbo-de-encher escrevem histórias apurando os recursos das suas particulares “oficinas” mas, faltando-lhes o envolvimento social, privam-se de histórias novas para contar. Sigam Romain Rolland: “Toda a obra que perdura é feita da própria substância do seu tempo: o artista não foi sozinho a construí-la; reproduziu o que sofreram, amaram, sonharam, os seus companheiros, todo o grupo.”
O escritor Eduardo Pitta, em crónica saída na rubrica Heterodoxias da revista “Ler” de Março passado, que um bom amigo me trouxe, pôs o assunto na mesa com magnífica frontalidade. Alinhou uma dúzia de novos ficcionistas para lhes notar uma “aparente abulia política”.
Que escritores portugueses eram os mais relevantes em abril de 1974?, começa Eduardo Pitta por perguntar. Recorda José Gomes Ferreira, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Óscar Lopes, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Natália Correia, Urbano Tavares Rodrigues e David Mourão-Ferreira. Acrescenta Alexandre O’Neill, Herberto Helder e Ruy Belo, que “eram grandes poetas, admirados e respeitados pelas elites cultas, mas sem peso no Meio”. E agrega ainda, entre os “dominantes”, os “tolerados (Cesariny) e os tonitruantes (Ary dos Santos)” para reconhecer – “todos davam a cara”.
Quer dizer: eram figuras da oposição democrática ao regime da Ditadura; autores de obras literárias impregnadas de valores ideológicos afins e cidadãos prestigiados pela coerência ideológica que demonstravam. Eram!... E hoje?
Pitta confronta-os com os “novos” Rui Cardoso Martins, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, Alexandre Andrade, Valter Hugo Mãe, Rui Herbon, Rui Manuel Amaral, Jacinto Lucas Pires, José Luís Peixoto, Sandro William Junqueira, João Tordo e David Machado. São “autores nascido entre 1967 e 1978” e, note-se, distinguidos com prémios e traduções! “Gostava de saber – escreve Eduardo Pitta – o que pensam da falácia europeia, do desemprego sem freio, do empobrecimento geral, dos direitos das minorias”, etc., ou seja, dos problemas que afligem os portugueses na actualidade. Simples equação. Serve para demonstrar a radical limpeza que tem vindo a expurgar a nossa literatura – e não só a ficção – de sinais de envolvimento social dos novos autores. O alheamento ou a recusa de cor ideológica (máxime, de esquerda) implantou-se como regra.
O compromisso dos novos ficcionistas é com o mercado, onde qualquer tendência politica ou ideológica não “natural” (isto é, estranha à opinião vulgar) resulta “incómoda” pelo risco de poder estragar o negócio. Esses autores do verbo-de-encher escrevem histórias apurando os recursos das suas particulares “oficinas” mas, faltando-lhes o envolvimento social, privam-se de histórias novas para contar. Sigam Romain Rolland: “Toda a obra que perdura é feita da própria substância do seu tempo: o artista não foi sozinho a construí-la; reproduziu o que sofreram, amaram, sonharam, os seus companheiros, todo o grupo.”
1 comentário:
Caro amigo:
Verdade, grande verdade, o que refere! Não há, de facto, a têmpera que havia noutra altura...
Um grande abraço,
João Cruz
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