É facto indisfarçável: o rol de livros que aprecio nesta coluna em breve nota de leitura vai crescendo. Na maioria são obras publicadas no século XX e só uns poucos são novidades literárias ainda frescas. Ora isto resulta de duas ordens de razões que pedem uma razoável explicitação.
Por um lado, conservo ainda uma quantidade de leituras por fazer, ou refazer. As sofreguidões dos anos vividos impediram-nas ou adiaram-nas, de modo que uns tantos livros escolhidos permaneceram comigo como salvados. São agora uma excelente companhia e lenitivo para qualquer monge laico que se retira do bulício e no silêncio da escrita alheia busca a deslumbrante cintilação das obras mestras.
Mas, por outro lado, desde cedo me habituei a registar as minhas impressões do que ia lendo. Ler é também escrever (e a recíproca vale igualmente), o que lembra a regra do “quanto mais intensivo é o leitor mais facilmente se transforma em autor” conforme parece acontecer amiúde na praça literária. E, sem dúvida, é maximamente gratificante para o leitor este acto de enaltecer a obra admirável que o deixe maravilhado.
Assim tenho vindo a comentar autores de obras como Romain Rolland, Thomas Mann, Hermann Hesse, Boris Vian, Johan W. Goethe, Mark Twain, Ken Robinson. Todos estrangeiros, é certo, mas aparecem também portugueses e brasileiros: Sampaio Bruno, Fernando Pessoa, Alexandre Guarnieri, Pires Laranjeira, António Canteiro… Todavia, um aspecto que para mim é o mais significativo encontra-se na sugestão contida nestas notas e que é....
Pretendo sugerir que vale bem a pena virar as nossas atenções para a literatura que ficou publicada e consagrada no século passado, digamos até 1980, aproximadamente. Pouca ou nenhuma dessa literatura se encontra hoje no mercado. O interessado procura-a em vão nas livrarias; se tentar os alfarrabistas talvez neles consiga o que deseja.
Quer dizer, entre os efémeros sucessos literários da actualidade (de autoria dos fabricantes de best-sellers de cada mês aqui repetidamente desmistificados), e as obras que se consagraram no século passado à luz de diversa exigência, eu não hesito na escolha. Não as tem ao alcance o interessado nas redes do comércio normal? Recorra às bibliotecas públicas!
Nas bibliotecas públicas os leitores são convenientemente atendidos por pessoal habilitado. Têm serviço grátis e podem inscrever-se como leitores, o que lhes permite a leitura domiciliária. Se tudo isto os não conforta, que mais pedirão os leitores? [Imagem: pintura de Almada Negreiros]
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