Edison dizia que o génio consiste numa simples migalha de Inspiração e que o Trabalho muito suado é que era a coisa quase inteira menos a migalha. Mais ou menos nestes termos falava o homem, cientista desprestigiado, de como realizava as suas invenções - e foram mais de duas mil, de acordo com a história. Estaria a referir-se à lâmpada eléctrica de incandescência que tanto o fez rabiar até que acertou no filamento de carbono?

Nesse caso, parece que Edison foi autor de uma outra invenção (recorrendo não só à pilhagem de inventos alheios). Descobriu a obsolescência programada dos bens de consumo que por todos os lados hoje nos assalta e devora. Pois não se dizia que, ao fim de uma cambada de anos, a lâmpada daquela festejada data ainda continuava a funcionar?
A iluminação com tubos de néon, posterior, poupava electricidade e produzia menos calor, mas seguia a regra: ao cabo de uma cifra de horas de utilização acabava a relampaguear (e nós em dúvida: como descartar sem perigo os tubos fundidos no ambiente). Agora temos a grande novidade, a luz dos diodos. São de custo elevado mas podem convir porque garantem uma também elevada poupança de energia.
Em que ficamos? Na mesma. Anuncia-se uma próxima novidade nesta matéria absolutamente revolucionária: vão aparecer no mercado novas lâmpadas e alguns outros aparelhos domésticos concebidos por uma nova tecnologia tão avançada e perfeita que lançará definitivamente no lixo tudo o que temos vindo a usar e conhecer.
A nova tecnologia chega, portanto, envolvida nas habituais epifanias que, com esperança inesgotável, acolhemos as novidades: consome de electricidade menos que a lâmpada de Edison, menos que os tubos de néon e até menos que os recém-chegados diodos. E agrega ainda outras conveniências importantes, dizem sem esclarecer os anunciantes. Apenas não cuidam de nos prevenir que teremos de continuar a ir à loja e ao mercado para abastecer o sistema que do capitalismo tem nome e proveito. [Imagem: motivo central de pintura por Vladimir Volegov.]
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