segunda-feira, 27 de junho de 2016

Começou o futuro!

brexit.jpgEstes são os dias do resto da vossa vida, sentenciaram os povos das ilhas. Ouviram-nos em Bruxelas, do outro lado do canal com feitio de manga e, sem esperarem dali outra resposta, os senhores plenipotenciários entreolharam-se, surpreendidos, e ficaram suspensos como cabides na corda a oscilar ao vento. Começava o futuro!

De pouco ou nada serviu espalhar tanto medo. Aqueles povos distinguiram claramente os factos e não se amedrontaram. E conseguiram depois espalhar medo em quem procurou infundir medo.
Realmente, não demorou nada que outros povos, a começar por um vizinho de Bruxelas, erguessem as vozes para sentenciarem como os das ilhas. Muitos outros vão também querer lavrar sentença. A estrela caída, segunda em grandeza, parece que correu uma cortina que deixou agora a cena toda iluminada.
Os senhores plenipotenciários mostram semblantes os mais carrancudos, carregam nos tons ameaçadores, tentando castigar os povos das ilhas e, ao mesmo tempo, dissuadir outros povos da mesma peripécia. Estão dentro dos seus papéis, mas, avançando por esse caminho, contra os seus interesses, provavelmente mais depressa farão cair da bandeira umas quantas estrelas da constelação unida. Sim, para todos os efeitos, entrámos no dia seguinte, eis-nos no futuro!
Definitivamente, o facto tornou-se óbvio. Os senhores de Bruxelas não foram eleitos, por lá as regras democráticas pouco significam, de modo que as estrelas constituintes do círculo perfeito desenhado na bandeira podem ser tratadas de modos desiguais, imperfeitos. A duplicidade de critérios tornou-se flagrante.
Agora até se pode perceber quanto o imperialismo foi servido com a organização de um mercado único de quinhentos milhões de consumidores. E perceber igualmente o objectivo fundamental que orienta a organização (se acaso não estava já imbuído na matriz original). Por algum motivo os senhores plenipotenciários são apontados como servidores dos interesses da especulação financeira internacional.
Na verdade, a união dos vinte e oito desfaz-se quando se afunda em paralisia económica e o desemprego cresce sem remédio à vista, demonstrando quanto vale a visão das troikas, do neoliberalismo e da austeridade. Bastava, porém, a escandalosa crise dos refugiados ou o inspirado alastrar das forças políticas da extrema-direita pelo velho continente. Portanto, sem sequer lembrar o famigerado, o incrível Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento que o presidente Obama andou por cá a vender…

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Duas "Mães" lado a lado

mães.jpgJuntei-as há muitos anos e assim permaneceram. Vendo-as lado a lado, esperei que entrassem em confronto directo, que uma discussão se acendesse entre elas. Porém, o tempo foi passando e aquelas “Mães”, assim coladas uma à outra, conservavam-se ensimesmadas, não falavam, até que por fim eu as forcei ao despique.
Foi fácil, bastou-me ir à estante e pegar em dois livros. Um já o havia lido. Era A Mãe, o inesquecível romance de Máximo Gorki.
O outro livro estava por ler e em espera pacientíssima há uma caterva de anos. Enfim, chegou a vez de apreciar A Mãe, de Pearl S. Buck. O que distinguiria estas duas obras?
A de Gorki (1868-1936) data de 1907. Foi escrita em Capri, Itália, onde Gorki se exilou após o fracasso da primeira revolução contra Nicolau II da Rússia e de abandonar os Estados Unidos. É A Confissão considerada a sua obra-prima, mas foi com o romance de Pavel, filho de Pelágia, a mãe, que o autor mais se popularizou.
Operário, como seu pai, Pavel procurou compreender, lendo, por que motivo a fábrica onde ambos trabalhavam se desenvolvia e quem lá trabalhava não saía da cepa torta. Largou o álcool, fez amigos, inquietos como ele, entrou a debater questões políticas com sua mãe a assistir, primeiro com estranheza e logo, politizando-se, a perceber o alcance e o sentido do que se discutia. Assim, por amor do filho, aderiu à revolução.
Tenho lido autores que referem Gorki como “comunista” mas parece não ter a mínima base tal conotação. Suponho que na Rússia, em 1907, ninguém empunhava tal bandeira. Havia, sim, revolucionários em luta pelo derrube do regime czarista, anacrónico e repressivo.
Pearl S. Buck (1892-1973), prémio Nobel em 1938, publicou A Mãe em 1933. Filha de missionários presbiterianos dos Estados Unidos, viveu muitos anos na China e lutou por igualdade de direitos das mulheres. Distinguiu-se como autora de uma copiosa bibliografia e como sinóloga, pelo que, em sua homenagem, o governo chinês transformou em museu a casa que ela habitou em cidade próxima de Xangai.
A sua “mãe” espelha acima de tudo a submissão que o género feminino chinês mantinha naquela época. Realça, portanto, a nobre causa que a autora abraçou. Todavia, embora vincule exclusivamente a sexualidade da mulher à função maternal, Pearl descreve (caps 8 e 9) a descoberta do erotismo na rapariga com a finura poética de uma autêntica artista da palavra.
O leitor desta “mãe” acompanha o esforço heróico da mulher abandonada pelo homem, a sós com a família e em luta com o seu destino. Na obra de Gorki encontra operários e mães a sair da ignorância para compreender e abolir as mais flagrantes contradições sociais. [Imagem: ilustração central de cartaz português do início do séc. XX.]

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Ferreira de Castro centenário

fcastro.jpgFoi há cem anos que um novo autor português surgiu no Brasil. Para este país partira de Ossela, ainda menino, e muito novo era ainda quem se estreava nas letras. Ferreira de Castro tinha 18 anos em 1916, ao publicar Criminoso por Ambição.
A efeméride está a ser assinalada principalmente em Sintra e na terra natal do romancista com numerosas iniciativas que evocam a sua vida e obra literária. [José Maria] Ferreira de Castro (Oliveira de Azeméis, 24-05-1898 / Porto, 29-06-1974) reaparece assim em ciclos de conferências e colóquios, exposições documentais, visitas guiadas, exibição de filmes, concurso escolar, edição de selo postal e outras iniciativas em promoção por diversas entidades durante todo este ano.
Ferreira de Castro é autor de uma vasta bibliografia, que inclui obras de divulgação e viagem, mas foi com os seus romances Emigrantes, 1928, A Selva, 1930, A Lã e a Neve, 1947, e A Curva da Estrada, 1950, que justamente se celebrizou e permaneceu na memória de gerações sucessivas de leitores. Porém, os últimos livros que publicou datam de 1968, com O Instinto Supremo, romance, e Os Fragmentos, datado de 1974, ano em que morreu com 76 anos. Esteve, portanto, em actividade ao longo de 58 anos!
Realmente, foi um dos primeiros escritores portugueses que conseguiu viver exclusivamente da literatura. As suas obras mais aplaudidas eram frequentemente reeditadas porque conquistavam novas camadas de leitores, mas Ferreira de Castro foi “profissional” das letras graças à celebridade que alcançou no estrangeiro. As traduções das suas obras publicadas além-fronteiras atingiram mesmo uma cifra recorde.
O francês era então a língua de contacto nas relações culturais, na diplomacia, pois a Europa, berço da civilização greco-latina, estava no centro do mundo. As traduções francesas de Emigrantes, A Selva e outros romances abriam caminho para chegar a outras línguas… Hoje, com a predominância (ou a hegemonia?) do inglês, a situação alterou-se até se tornar irreconhecível.
Ferreira de Castro permanece, porém, na moldura do seu tempo, com todo o humanismo que impregna as páginas que escreveu. Defendeu sempre a democracia e a liberdade, a paz e a justiça para os que mais a merecem. Foi um escritor-cidadão interventivo e coerente, que pôde ainda festejar o derrube da ditadura salazar-marcelista.
Os especialistas colocam as suas primeiras obras num lugar que propiciou a formação do movimento neo-realista em Coimbra por volta de 1940. Por esse e por todos os outros motivos, é de saudar o presente programa comemorativo do centenário de Ferreira de Castro. É património nacional e universal, não imaterial porque é legível e vital como as obras de tantos autores portugueses do século XX caídas no limbo.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

A passageira do autocarro

escultura.jpgNaquela manhã o autocarro já vinha cheio e na paragem ficou congestionado. As pessoas comprimiram-se, contrafeitas, no corredor e junto à saída, onde podiam estar de pé. O autocarro arrancou pesadamente e logo alguém anunciou que ia ali uma mãe com bebé ao colo.

Cena vulgar: quem ouviu permaneceu sentado, na lógica ilógica que torna uma regra que a todos incumbe obrigação de ninguém. Até os ocupantes dos quatro lugares obviamente destinados a grávidas, mães com filhos ou incapacitados em cadeira de rodas, continuaram ausentes. Então uma passageira de pé comentou: “Não sabe dar aos outros quem ainda menos sabe dar a si mesmo.”
Cabeças e ombros do grupo que se comprimia ondeavam com os solavancos e as travagens como limos em pedras escovados pela corrente fluvial. Outro passageiro, gracejando, introduziu o vernáculo popular. Apontou com o queixo e comentou: “Aqueles quatro nem com o rabo sabem ler!”
Também ele ia no grupo de pé. Olhou com atenção: a senhora que falara tinha no semblante uma serenidade especial. Aliás, no seu comentário parecia não haver a usual crítica ou censura, apenas um triste lamento perante a pobreza exposta.
Era invulgar. Mas ele sentiu no dito da senhora um eco, uma reminiscência que de súbito o ligou a uma vivência e mesmo a um conjunto semântico, palavras carregadas de sentido especial, e a memória acordou-lhe um tempo remoto. Bastante remoto, sim, de quando estudou história e filosofia dialéctica.
Trocou um olhar com a senhora. Realmente, poder dar e poder receber, incluindo a nós próprios, o que sobretudo nos falta e nos faz bem, é muito mais difícil do que parece. Era isto que ele presumia que ela quis dizer.
Ceder a outrem é também, dialecticamente, ceder a si próprio, pessoa entre pessoas decerto não menos carecida de tolerância bem como da compreensão que pode dar aos outros e que, afinal, nunca será melhor do que a que dá a si próprio. Aquela senhora mostrava, portanto, uma consciência dialéctica que lhe permitia iluminar estas questões. Entretanto, o autocarro aliviou-se numas paragens e ele conseguiu aproximar-se.
A senhora conversava com outra passageira e ele, ouvindo-a, confirmava as suas impressões. Porém, a outra alardeou: “Gostava de a ter como amiga!” Ele não se conteve: “E eu apreciaria ter uma mulher como a senhora por perto!”
Mas ela de repente chegou ao destino, saiu apressada e, já a seguir pelo passeio, acenou com a mão de um certo modo. Lembrou-lhe: como pretendia Vinicius de Morais, quando se encontra um novo amigo, não se conhece, reconhece-se. [Imagem: Arte em espaço público: escultura-abrigo.]

segunda-feira, 30 de maio de 2016

As gerações da globalização

solipsism.jpgMostra o teu lado selvagem, diz a publicidade ali no cartaz. Exposto na parede da confeitaria, não promove somente a barra de chocolate ou a bebida energética que os jovens consomem: promove sobretudo o lado selvagem acreditando que o encontra espalhado e latente, à espera do sinal para se mostrar. Formatadas, as novas gerações gostam de agressividade para afirmarem o próprio ego, a exemplo dos heróis invictos que, de peitos enfunados, enfrentam e esmagam qualquer assomo de resistência.

O lado selvagem campeia em cenas de bullying nas escolas ou de indisciplina nas aulas e na falência da formação escolar. Talvez venha, embrionário, das crises por que passa a estrutura familiar. Mas o ambiente da rua, do bairro, da cidade, do país, do continente e do mundo avança no caminho selvagem tão generalizadamente que estamos perante uma vaga que um novo tempo impõe.

E assim as novas gerações acham perfeitamente natural que os heróis do chuto na bola ganhem cabazes de milhões nem se importam com o preço que pagam para entrar nos estádios pois acreditam no sonho americano mesmo em Portugal. Ouviram os pais a recordar os tempos difíceis que viveram e agora as novas gerações vêem as coisas feitas e arrumadas, tudo organizado. É tempo de festa, haja música, muita música, concertos monumentais, para quê marrar no estudo como as meninas e os meninos queques, ou atender profes de esquerda a dizer que é preciso ter causas, ideais, princípios?
A melhor ideologia é a do mercado, com a cultura das grandes marcas, o conforto da mentalidade estereotipada, a consagração dos gostos e dos costumes kitch. Ser português importa pouco, basta ser habitante e consumidor, portanto longe de questões como saber distinguir o que é patriotismo do que seja nacionalismo. As novas gerações dispensam a cultura geral tão facilmente quão a leitura de informação diária; não entendem de política e tardam a definir projectos de vida supondo que estão disponíveis para a melhor oportunidade por vir.
As novas gerações ignoram por que não querem saber. A globalização (do ensino, da cultura de massas, do espectáculo non stop, do consumismo como estilo de vida) deu-lhes, subrrepticiamente, a matriz essencial do desiderato que importa. Os donos disto tudo podem continuar descansados: poucos são os que se espantam vendo Barack Obama andar por Europa e Ásia a propagandear o famigerado, monstruoso e inaceitável tratado de comércio ao serviço das maiores empresas transnacionais da poderosa nação a que preside.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O mundo dos bárbaros


bárbaros.jpgUm vento de insânia, tenebroso e gélido, atravessa os continentes e parece atordoar os cérebros, eclipsar os direitos humanos, transformar os princípios éticos ou a própria decência civil em toleima anacrónica. Trump, candidato estado-unidense à presidência, repete frases bombásticas de estarrecer, no Brasil o golpe de Estado de Temer é escândalo posto em cima de um monte de escândalos (veja-se o retrato dos ministros do “governo de gestão” que até já quer mudar a Constituição), Uribe, presidente da Colômbia, apelou em Miami, em cimeira “Concórdia”, por uma intervenção militar de “forças armadas democráticas” na Venezuela em apoio da oposição e, sem dúvida, para enterrar a Revolução Bolivariana, Cristina Kirchner, após doze anos a morar na Casa Rosa argentina, e seus filhos enfrentam seis acusações de corrupção. Na (des)União Europeia há cada vez mais países em derivas políticas radicais quase incríveis, como na Áustria, Dinamarca e França austeritária com novas leis laborais impostas por decreto.

Na Indonésia, o presidente eleito promete eliminar criminosos matando-os, prender manifestantes e teria muito gosto se tivesse violado também uma tal freira bonita. Duterte, novo presidente das Filipinas, quer mudar a Constituição e aplicar “linha dura” na governação (em campanha já ameaçava matar “traficantes”) e desafia a China dispondo-se a reivindicar umas ilhas em disputa. Tudo isto, apanhado num simples relance, deixa uma pessoa estupefacta, de boca aberta: estará o Mundo entregue aos bárbaros?
Olhando um pouco ao lado e girando o globo, está a Rússia rodeada mais e mais por forças e aliados dos Estados Unidos. Na Ucrânia, antigo “celeiro da Europa”, Yanukovych ganhou a presidência em 2010 numas eleições perfeitamente democráticas (mas o que vale hoje a democracia?), o parlamento destituiu-o e ele exilou-se em 2013 para ser substituído por Poroshenko, pró União Europeia e NATO. No Egipto, Morsi, da Irmandade Muçulmana, venceu as primeiras eleições democráticas do país mas foi deposto em 2013 por golpe de Estado do general Al-Sissi que, com nova Constituição, declarou a Irmandade “terrorista” e legalizou a pena de morte, pelo que o tribunal condenou 529 pessoas num único dia, aumentou a repressão (mortos 595 manifestantes pró-Morsi em 14-08-2013, outros 152 condenados, jornalistas perseguidos, etc.), mas atenção, Al-Sissi não é ditador! (soube entregar duas ilhas à Arábia Saudita em troca de grande ajuda financeira para as forças militares egípcias).
E na Turquia? O presidencialista Erdogan sabe jogar em tabuleiros diferentes sempre a ganhar, acusam-no de corrupção mas o homem defende-se, persegue opositores, prende e leva julgamento jornalistas mesmo estrangeiros para os quais o partido curdo não é “terrorista”, e não lhe falem de direitos humanos, de refugiados ou do acordo que fez com a Alemanha de Merkel. É este o mundo dos bárbaros: inimigos da civilização, da dignidade humana, da justiça.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Considerando a Vida...


planeta.jpg
A notícia correu há dias e… qual a novidade? Nenhuma. Apenas a de que a sonda Kepler, disparada há anos para fora do nosso sistema planetário - ou seja, para lá do cantinho onde o planeta azul gira a circundar o Sol, o nosso solzinho que tanto nos atrai e anda a esconder-se atrás de nuvens invernosas desta Primavera sombria – que a sonda, dizia, funcionava e que enviara imagens de muitos outros sóis também com sistemas planetários e planetas provavelmente idênticos à mãe-Terra…
Ora pois, novidade nenhuma. Qualquer cabeça munida de cultura geral suficiente não ignora com certeza que abundam no cosmos milhões e milhões de estrelas, sóis e mais sóis a brilhar dentro dos seus sistemas planetários. De resto, basta abrir bem os olhos e considerar o céu cósmico onde avulta a esplendorosa “estrada de Santiago”, designação de antigos caminheiros em peregrinação a Santiago de Compostela que corresponde, em astronomia, à galáxia inteira onde o nosso sol ocupa um cantinho…
Considerar o céu, disse, praticando conscientemente um pleonasmo, porque con-siderar é, etimologicamente, estar com o sidério, espaço sideral tão vasto e maravilhoso que por vezes até podemos ficar em contemplação, siderados (perplexos, atónitos, atordoados, fulminados). Realmente, a sonda Kepler apenas atingiu os arredores do nosso sistema planetário e recolheu imagens do que sabemos que por lá existe. Na galáxia a que pertencemos existem milhões e milhões de incontáveis sóis e planetas, buracos negros poderosos que tudo engolem, e, mais longe, outras galáxias, algumas em espectacular colisão e, sobretudo, espaço, imenso espaço, infinito espaço em expansão.
A experiência viva que um mínimo de conhecimento astronómico nos pode dar conduz inevitavelmente à percepção de que não será colada à dimensão terrena que uma consciência humana chegará a compreender algo do fenómeno Vida. Carl Sagan gostava de dizer que somos feitos da matéria das estrelas. É uma boa forma de dizer o mesmo.
Precisamos de dilatar a imaginação pela imensidão celeste (mexer as pernas da imaginação é exercício dos mais salutares!): por exemplo, atravessar a nossa galáxia no seu ponto mais estreito, demoraria, em anos-luz, tão poucos que pudessem caber na escala humana mais louca? Iremos deparar-nos com a questão essencial: quem somos, o que fazemos aqui. A resposta está na abóbada cósmica, povoada por matéria nas variadas formas que pode assumir; matéria, leite materno, afinal indestrutível, só transformável; matéria que é, na sua outra dimensão, espaço-tempo.
Nota final. Escrevi estas linhas evocando o saudoso amigo arqº Fernando Lanhas, pintor de múltiplas ocupações e preocupações, imaginando-o em conversa comigo e sentindo a falta que me faz.