segunda-feira, 18 de julho de 2011

Por exemplo: Murdoch

O escândalo das escutas ilegais que provocou de súbito a liquidação do jornal inglês News of the World e forçou o seu dono a desistir da compra do canal de tv por satélite, negócio apetitoso de uns dez mil milhões de euros, trouxe para a ribalta a figura de Rupert Murdoch. O magnata dos media (Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e, enfim, em quatro continentes) ilustra exemplarmente as misérias em que chafurda a imprensa tablóide, do sensacionalismo barato custe o que custar. E agora - a lembrar Orson Welles no clássico filme «O mundo a seus pés» - parece que chegou ao momento de o céu lhe cair em cima da cabeça.
Em Londres, Nova Iorque, Sidney e outras cidades estão sob suspeita e investigação os critérios editoriais praticados pelos órgãos de comunicação social pertencentes à poderosa News Corp de Murdoch. Com a cumplicidade de políticos e de estadistas, este «cidadão Kane» concentrou um império mediático tão vasto e corruptor que lhe permitiu criar ou destruir governos, influenciar disputas eleitorais e políticas governativas.  É o que se diz agora, abertamente, quando o medo se dissipa e o magnata parece ter caído em desgraça.
O poderio de Murdoch provém da quantidade incrível de órgãos mediáticos que conseguiu concentrar na sua mão em diversos países. Se não fosse agora travado pelo escândalo das escutas (que envolve em suspeitas também os tablóides  do grupo «Sun» e o «Sunday Times», ficaria de posse de mais de metade dos media comerciais britânicos. O homem, com seu filho, é tido como um problema tão global quanto a corporação que criou.
Acusam-no de ditar orientações ideológicas aos seus órgãos, de corromper e controlar democracias, forçando políticos a seguir as suas próprias ideias extremistas quanto a guerra, tortura e outros problemas mundiais, ou destruindo carreiras de políticos  que lhe resistam com campanhas de difamação. É apontado por ter ajudado, nos Estados Unidos, a eleger George W. Bush e de ter às ordens a maioria dos presidenciáveis republicanos. A rede Fox News, do império Murdoch nos Estados Unidos, espalhou notícias para promover a guerra no Iraque, estimulou o ressentimento contra muçulmanos e imigrantes e lançou um movimento populista de direita.
Isto basta como exemplo da valia real de uma (des)informação sem escrúpulos, orientada apenas para a corrupção e o negócio lucrativo (ilustrando o quadro da decadência geral dos jornais, incluídos os gratuitos). Agrada às massas populares servindo-as de papel sujo dos seus jornais, manipula as opiniões sem respeitar os factos e, com as tiragens e audiências que atinge, atrai os anunciantes para a publicidade encarecida. Salienta também os sérios perigos, para os regimes democráticos, que acompanham a concentração de órgãos de comunicação social de cada país em poucas mãos escolhidas e amigas.
Em Portugal, onde temos na memória fresca o caso «Face oculta», essa concentração é já elevada apesar das disposições em contrário. Um grande número de órgãos privados mais influentes já está às ordens de um pequeno grupo de pessoas. Acrescente-se que, conforme se anuncia, um canal da televisão pública será em breve privatizado...

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