terça-feira, 1 de novembro de 2011

A ordem é empobrecer!

O povo da Grécia vive uma tragédia a que devem dar atenção os outros povos do Ocidente e em especial os restantes da União Europeia. A tragédia dura há anos, de certo modo desde a Segunda Grande Guerra, prolongando-se agora numa agonia implacável e tanto mais implacável quanto mais dura. Nessa duração, porém, poderão os outros povos aprender, se quiserem, a evitar tal sorte.
Na verdade, a Grécia vai à frente do «pelotão» de países em crise como candeia que alumia o caminho traçado pela avidez gananciosa do sistema financeiro internacional. Os Portugueses, sobretudo, irão ver-se no lugar dos Gregos se não arrepiarem caminho e, em clamorosa maioria, travarem a ruinosa política pretendida pelas troikas externa e interna. A dívida pública (ou soberana, do Estado) e a crise financeira internacional servem de álibi para, em nome da «crise», extinguir as conquistas sociais obtidas com a democratização do 25 de Abril e condenar Portugal, outra vez salazarento, ao «terceiro mundo».
A indignação pública é importante indicador da reação popular, mas verdadeiramente decisiva será uma compreensão, mínima que seja, de como entramos na espiral das dívidas e no garrote que subjuga as nações para as saquear. Um governo excede o seu orçamento gastando em obras de fachada e origina um défice, vende ao desbarato património público apetitoso para compor as contas, o défice agrava-se (com a destruição de setores produtivos, austeridade e recessão), pede empréstimos e mais empréstimos à banca, as obras de fachada prosseguem e as dívidas crescem, os juros trepam, e surgem as dificuldades de «financiamento da economia nacional». O governo isenta-se de culpas e de responsabilidades, alega que o povo viveu acima das suas possibilidades e convida-o a aguentar sacrifícios mais e mais pesados... A ordem é clara: o geral empobrecimento.
Neste ponto faz-se lembrar quem há uns anos, agourento, fazia uma previsão incrível: a alta finança ensaiava na União Europeia, com a introdução do euro, uma estratégia que iria afundar as nações do sul em proveito das do norte. Hoje já se vê que a moeda única não poderá de facto ter futuro numa união de 17 membros com ritmos de desenvolvimento desiguais, assim como uma composição ferroviária com 17 carruagens em rodas de tamanho e feitio diferentes.
Então é indispensável que a população em geral perceba até que ponto o governo serviu a estratégia da alta finança especulativa em óbvio prejuízo do povo que o elegeu. Perceba até que ponto perdeu pelo caminho a democracia e a liberdade. Até que ponto as dívidas acumuladas pelo Estado transformam os cidadãos em modernos escravos que terão de lutar pela libertação.

2 comentários:

Manel disse...

Bom dia amigo Arsénio,
Ainda é "una voz que clama en el desierto" .
Sinto o bafio salazarento dos invejosos a percorrer os caminhos deste país.

A. M. disse...

Obrigado, amigo Manel, pela visita e pelo apoio. Na verdade, a situação envolve-nos a todos. Mas, caramba, são cada vez mais «las voces que claman en el desierto» e se fazem ouvir pelo mundo! Tenhamos esperança.