terça-feira, 10 de abril de 2012

Escultura ao ar livre


Pouco espaço resta, actualmente, à escultura, para se exibir e guardar, que não seja museu ou ar livre. Mas no museu entra hoje somente a obra consagrada, ficando cá fora muito de bom e do menos bom, senão do detestável que se vê por aí, nas rotundas em vertiginosa propagação, como mamarrachos erguidos à categoria de arte. Contudo, entre as macaqueações de escultura que surgem e se multiplicam no espaço público, aparecem obras com verdadeira dignidade estética, merecedoras de atenta contemplação. Estas obras, expostas ao ar livre, portanto em pública fruição, concretizam o que parece ser a autêntica função da escultura admirável que não «cabe» nos museus, instituições que, cabe lembrá-lo, tão poucas pessoas frequentam. É o caso deste díptico de autoria do escultor Bruno Catalano (França). Resulta fortemente expressivo. O Emigrante que parte não parte inteiro: deixa para trás a terra que leva, agarrada às solas dos sapatos, com um enorme buraco aberto no peito; o Imigrante que chega ao destino é o estranho homem dividido entre um lá e um cá, sem verdadeiramente a nenhum lado pertencer por inteiro. O drama humano da emigração é paralelo a outro de não menor atualidade - o drama dos refugiados, seja de conflitos étnicos, religiosos, políticos, regionais ou nacionais. Sem esquecer os refugiados naturais, deslocados por cataclismos ou transtornos insuportáveis do clima (poluição, erosão, desertificação) ou de crise.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Arsénio!

Concordo contigo.
Também acho que a arte está cada vez mais despida de conteúdo estético.
Felizmente, ainda há artistas, com inteligência, alcance humano, sensibilidade apurada...
É profundamente linda, essa escultura!
Abraço,

Isabel

A. M. disse...

Ora viva, Isabel!
Gostei de te saber passante por aqui. Volta sempre que tenhas um cisco de tempo. Sobretudo para discordâncias! Neste caso, sim, estamos de acordo. Felizmente, a arte sem elevado nível estético distingue-se bem da que revela, como dizes, «inteligência, alcance humano, sensibilidade apurada»...