Os linguístas têm-se desunhado a escabichar e apenas topam as mais recuadas referências ao substantivo em textos do século XIII. Já o verbo consoar aparece em registo do século XV e por sinal com duplo significado: partilhar a consoada; soar juntamente, rimar (do lat. cum+sonare). Em que ficamos, então, sobre o costume que o Dicionário da Porto Editora descreve como a “pequena refeição que se toma à noite, nos dias de jejum; ceia em família, na noite de Natal; presente que se dá pelo Natal”.
Certamente, a alusão a pequena refeição à noite em dias de jejum, em face da actual vertigem consumista até pode parecer uma piada. Os grandes centros comerciais e lojas pejaram-se de multidões em frenesins de compras, prendinhas e mais prendinhas para contemplar toda a família e outra gente prendada. É de crer que a totalidade de smartphones e quejandos aparelhos com ligação à Net já vendidos tenha excedido, nesta data, a cifra estatística da população portuguesa, incluída a emigrada!
Crise? Onde está a crise?, perguntam o desempregado, o pobre pensionista, o subsidiado de rendimento mínimo, o estagiário não remunerado. Talvez estejam em acreditar nos especialistas de saúde mental do país que consideram a população nacional afectada nuns 40% de casos.
Evidentemente, as intoxicantes campanhas publicitárias lançadas pelas empresas conquistam resultados. Lançam modas e seduções (“dias” dos papás e das mamãs, dos namorados, etc.) e há gente que morde o isco, a moda pega, opera-se a massificação do consumo no mercado massificado. Consumir, consumir, é ou parece ser o supremo desígnio de massa acéfala que vai em frente: avança às cegas porque sim, todos correndo uns atrás dos outros, contentes por irem no rebanho.
Todavia, se a noite de consoada junta a família à luz do novo solstício que vai alargar a duração dos nossos dias até ao pino do Verão, viva o Natal! Ora aos linguístas não passa despercebido um pormenor: o substantivo consoada é anterior ao verbo consoar uns séculos. O costume da substanciosa e fraterna ceia em família pode não ser tão antigo quanto isso, mas a acção do verbo propriamente dita (agora a deixar os lares e a preferir os hotéis) é bem mais recente…
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